sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Um manifesto à História


“Eu não anistiei ninguém!”

O Brasil vive um raro momento de passar a limpo a sua história e esclarecer o obscuro período ditatorial que marcou não só fisicamente, mas, psicologicamente centenas de cidadãos e cidadãs que pagaram caro, quando não, com a própria vida, pára podermos afirmar que somos uma democracia, se não de fato, ao menos no papel.
Trata-se da criação da Comissão de Verdade, proposta recentemente pelo Secretário Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanuchi, cujo objetivo é abrir os arquivos da ditadura, bem como ouvir testemunhas que possam ajudar a esclarecer os crimes hediondos cometidos por militares como torturas, estupros e assassinatos do mal fadado regime de exceção que, felizmente não figura mais nos livros de História como Revolução e sim como Golpe Militar.
Como disse em entrevista o próprio secretário: “É preciso convencer as Forças Armadas que se a justiça mandar pra cadeia uma dúzia, duas dúzias de torturadores, como a Argentina, o Chile e o Uruguai fizeram, muito oposto de isso representar uma vergonha para as Forças Armadas, representará para o Brasil a manifestação de que As Forças Armadas aprenderam a distinguir. Nós temos que fazer essa transição, esse processamento, para nos orgulharmos das nossas Forças Armadas”.
Assim, a Comissão proposta, não traz em si nenhum caráter revanchista, como tem sido alardeado, num corporativismo mesquinho, parte das Forças Armadas, em especial o seu alto comando na figura do Ministro Jobim. A função da Comissão é estabelecer, como o seu próprio nome já diz, a verdade.
Trata-se de um processo catártico necessário e urgente, pois manter a obscuridade ou o silêncio é permitir que nossa história continue maculada, sem podermos virar esta triste página.
Trata-se de respeito às vitimas, aos seus entes e, numa escala menor, mas não menos importante, o direito às novas gerações conhecerem os fatos sem escaramuças nem omissões.
É neste sentido que existem, por exemplo, exposições, documentários e monumentos aos horrores cometidos às vítimas do Holocausto no regime nazista. É por esta razão que os campos de concentração foram abertos à visitação pública: para que não esqueçamos nunca as desumanidades praticadas e não cometamos de novo os mesmos erros e atrocidades.
“Vamos resolver, mergulhar nisso, se doer, deu, se chorar, chorou, se arranhar a imagem, arranhou. A Alemanha tem a capacidade de discutir no seu sistema escolar o nazismo, que, como proporção, é muito maior do que a violência aqui praticada, tem museus sobre o nazismo em Berlim, então o Brasil tem que se espelhar nesse exemplo e fazer...”
No Brasil, a ditadura militar torturou um sem número, mutilou, assassinou centenas, exilou outros tantos e desestruturou a vida de milhares.
Alguns casos são conhecidos e viraram referências como Vladimir Herzog, Lamarca, Marighela, Edson Luís, Rubens Paiva, Frei Tito, Zé Dirceu, Dilma Rousseff e tantos outros. Aqui mesmo em Valença, temos gente como Araken Galvão, exemplo vivo da resistência militar ao próprio regime. Nunca esquecerei, por exemplo, quando lhe entrevistei na Rio Una FM e percebi o seu silêncio comovente quando executávamos a música “O bêbado e a equilibrista”, escrita por Aldir Blanc e João Bosco em homenagem aos exilados brasileiros. Como não esquecerei também figuras com quem tive o prazer de conviver na minha trajetória no Movimento Estudantil: Acácio Araújo, Jhones Carvalho, Emiliano José, Seu “Totoca” e tantos outros...
É por esta razão, em respeito a estes brasileiros, que faço um apelo aos meus amigos historiadores, militantes partidários, lideranças do Movimento Estudantil, entidades de classe, lideranças religiosas, movimentos populares... para que se posicionem em defesa da verdade.
Vamos fazer um grande movimento, re-ocupar as ruas se preciso for, as praças... por que esta verdade precisa vir à tona. Para que nossos mortos descansem em paz e nós também possamos continuar a viver em paz com nossas consciências, pois como disse um outro agitador: “se esses homens se calarem. Até as pedras falarão!”

ABERTURA DOS ARQUIVOS JÁ!
PELO DIREITO À MEMÓRIA E A VERDADE!

Adriano Pereira, 27 anos, foi presidente do Grêmio Estudantil Edson Luís de Lima Souto (EMARC-VA), da UMES- Valença, diretor da Associação Baiana de Estudantes Secundaristas e atualmente é Secretário de Formação Política do PT- Valença.