terça-feira, 30 de outubro de 2012

Álcool e natureza em três tempos

Acordo ainda ressaqueado após uma noite de farra na praia da Guaibim. Meninos e algumas poucas mulheres. Uma fogueira, violões e doses excessivas de álcool compõem o cenário. Era para ser um luau, uma confraternização. Mas a intolerância acaba em violência. Um lutador de jiu-jitsu sorrateiramente, por razoes que nem todos compreenderam, sem nem ao menos dar tempo para reação, aplica um golpe em outro jovem. Saldo da noite: uma cachoeira de sangue a jorrar respingando no branco de sua calça. Racismo, homofobia ou a pura e simples violência gratuita daqueles que na falta de argumentos ou bom humor preferem resolver as coisas na base da porrada? Chego à porta do quintal e encontro a “minhoca” fazendo a sua primeira refeição: um camaleão. A cabeça já se foi. Dele só resta parte do ventre e a cauda azul-esverdeada. Não posso mais salvá-lo. A cena é de um realismo fantástico. Não estou sonhando. Minhoca é o nome da gata lá de casa. A principal característica do camaleão é ficar parado e camuflar-se para esconder-se do perigo. Não sobreviveu à sagacidade da gata, cuja principal característica é caçar. A natureza nos dá lições. Basta observá-la. Um sonho. Estou na varanda da casa do velho Galvão. Entre doses de cachaça e cervejas. Um papo animado sobre literatura. De repente, uma esperança enorme pousa no telhado. Morro de medo da esperança. O velho Galvão pega-a na mão e mostra-me: – Não é uma esperança. É um perquiri! Força-me a tocá-lo. Morro de medo, mas obedeço. Quando toco em suas asas/calda, ela sai voando. Abre suas asas. Ao chegar ao meio da rua, suas asas se abrem mais ainda, desfraldando uma enorme bandeira do Brasil, cujo centro amarelado é um girassol. Lembro de uma canção de Cazuza: “O Brasil vai ensinar ao mundo a arte de viver sem guerra, e, apesar de tudo, ser alegre, Respeitar o seu irmão”