terça-feira, 28 de dezembro de 2010

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Baixo Sul é 13! Por que o Brasil é um só!

Nós, abaixo assinados, trabalhadores ligados à cultura – teatro, música, dança, canto, literatura, artes plásticas, bem como educadores, comunicadores, profissionais liberais e demais categorias do Baixo Sul da Bahia, acreditamos que a questão básica de uma campanha política é uma só: o BRASIL. Entendendo como tal, a defesa da sua integridade territorial, dos seus recursos minerais e hídricos – os quais são propriedades inalienáveis do seu povo, em cujo benefício deverão ser unicamente utilizados. Acreditamos ainda que são esses pontos que se configuram como Soberania Nacional, cujo exercício dar-se-á com a prática de uma política externa independente, com relações diplomáticas e comerciais com todos os povos, independe de credo ou cor, sem interferência em suas respectivas políticas internas, significando isso que o Brasil, da mesma forma que respeitará a soberania dos demais países, exigirá respeito à sua própria independência, não se subordinando jamais aos interesses da política externa de nenhuma potência. Acreditamos, igualmente, que nossas questões básicas no momento são a defesa do pré-sal e do nosso mar territorial, da Amazônia e dos nossos recursos hídricos e minerais; da manutenção da política de aumento da nossa presença e influência pacífica junto aos povos da Nossa América e do Caribe, junto também aos nossos irmãos da África – em particular aos de língua portuguesa –, do aumento do comércio e presença cultural com as potências tradicionais e emergentes da Ásia; com o aumento de nossa presença no comércio, em igualdade de condições, com os países da Europa; com a aproximação com todos os países e grupos étnicos de língua portuguesa. Acreditamos ainda que nas relações com os países da América do Sul dar-se-á maior atenção para com os países irmãos de menor extensão territorial e de maior fragilidade econômica.
Por acreditarmos nessas verdades insofismáveis, por comungarmos da opinião de que o BRASIL VEM ANTES DE TUDO, não significando isso que, por sermos maiores, tenhamos o direito de pesar sobre os países menores. Isso considerado, denunciamos que o desvio do centro de discussão do problema político, nestas eleições, como distorcidos, por falsamente enfocar questões menores – algumas de certa importância, porém nunca fundamentais – como forma de ocultar os verdadeiros objetivos de traição nacional de determinado grupo antibrasileiro, cujo desejo é voltar à política de subordinação a interesses de potências estrangeiras e dos seus aliados internos – uma elite minoritária que sempre esteve de costas para a nação. Por isso denunciamos também grande parte dos órgãos da imprensa que acredita ser a liberdade de expressão apenas deles, os donos da mídia, que são contumazes em mentir, manipular a verdade, e publicar como reais suas opiniões antibrasileiras.
Por acreditarmos também que a questão básica do ensino, com destaque para a universidade pública, está sendo bem equacionada; que o problema religioso é de foro íntimo de cada um, como deve ser em uma democracia; que o problema de segurança pública – que é da alçada dos governos estaduais – é sério e ainda não está sendo bem equacionado; que o problema do aborto é de saúde pública, cabendo particularmente às mulheres discuti-lo e equacioná-lo; que o problema de geração de emprego, ainda que seja endêmico no sistema capitalista, está bem encaminhado; que o problema de saúde pública deve melhorar e muito ainda; denunciamos ainda o desvio na abordagem dessas questões menores, como forma de ocultar os verdadeiros objetivos de grupos minoritários da elite e grupos ingênuos da classe média que outrora essa mesma elite chamava de “inocentes úteis”, que pensam que salvando a perereca cor-de-rosa salvam a vida no planeta, esquecendo-se que para se salvar quaisquer espécies vivas – entre elas a espécie humana – é preciso preservar a nação brasileira e suas riquezas. Entre eles o seu POVO QUE É O NOSSO MAIOR BEM.
Por isso – repetimos – denunciamos como ato de traição nacional a tentativa de se ressuscitar o falso moralismo embolorado da velha UDN e dos oligarcas da imprensa que, no passado, apoiaram a ditadura, cujo objetivo sempre foi o de vender as riquezas nacionais – como fizeram com a privatização – quando as empreses públicas foram vendidas no poço das almas, ou seja, por trinta dinheiros.
Por tudo isso, afirmamos que o governo, em toda a História Republicana, que melhor defendeu esses princípios, realizou uma política de amor e respeito aos menos favorecidos, tendo em vista a integração da pátria, ainda que tenha feito alianças táticas com parte da oligarquia, foi o governo Lula, razão pela qual achamos vital a continuidade de sua política, através da eleição de Dilma Rousseff, para ser a primeira mulher presidente do Brasil.

Valença, BA, 12 de outubro de 2010

Assinam este documento:

Adriano Pereira – Alfredo Gonçalves Neto - Araken Vaz Galvão – Artur de Viveiros – Bily Well - Cadu Oliveira - Cássia Beatriz Lourenço Oliveira Cruz –– Daniela Lumi Watanabe – Devdson Queiroz (Monkey) - Elias Santos - Gilberto Magalhães - Irene Dóris – Henrique Menezes – Jamile Menezes - Juliano Britto – Luana Paula de Queiroz Figueiredo – Luciene Barreto - Manoel Durrel Santos - Maria Cláudia Rodrigues –Maurício Sena Gomes Borges – Mestre Nelson - Osmando Barbosa Caldas Filho - Otávio Mota – Pedro Lion - Plutarco Drumond – Raoni de Souza - Ricardo Lemos – Ricardo Vidal – Salete Lucena - Vilma Cristina Pereira de Queiroz – Yara Lúcia

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ARTISTAS DE VALENÇA ENTRAM NA CAMPANHA DILMA PRESIDENTE

A campanha DILMA 100% na Bahia conta neste 2º turno com um reforço a mais. Trata-se do "Movimento de Artistas Dilma Presidente" na cidade de Valença, pertencente ao Baixo Sul da Bahia.

O Movimento iniciado no dia 13 de Outubro vem ganhando corpo com a convocação de artistas plásticos para, de forma alegre e criativa, deixarem sua contribuição nos muros da cidade.

Além da pintura de muros, estão sendo realizadas reuniões e debates com lideranças de Grupos Culturais, Movimento Negro, GLBT, Igrejas, escritores, estudantes e dos mais diversos segmentos. "Queremos, respeitando as diferenças, dialogar com o maior número possível de pessoas e abrir o debate sobre o que está em jogo nessas eleições" - afirmou Adriano Pereira, um dos articuladores do Movimento.
Um manifesto local também será publicado e já está circulando na internet. Quem quiser receber o texto na íntegra e também subscrevê-lo basta enviar um email para pequenoprincipe2@hotmail.com



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

TEXTO E GRUPO VALENCIANO PARTICIPAM NESTA TERÇA DE FESTIVAL DE TEATRO EM SALVADOR - BAHIA


Com direção de Juliano Britto, “Os mortos” será encenado nesta terça feira na capital baiana como concorrente no Festival de Teatro Amador de Salvador.
O texto que, originalmente é um conto escrito por Araken Vaz Galvão e publicado no livro “Pargo e outras histórias” foi montado pela primeira vez na Ocupação Cultural por Adriano Pereira e apresentado em maio deste ano no Centro de Cultura de Valença, onde é realizado o projeto.
Nesta montagem, o texto foi acrescido do poema “Pátria”, de Geraldo Maia, interpretado pelo ator Geilson de Brito. Na concepção de Juliano, “o objetivo de relembrar os tantos martirizados pela ditadura militar para contar mediante as palavras de dois perseguidos da ditadura o que era o inferno das masmorras militares”.
No entanto, o texto é também um questionamento onde ambos confrontam-se interrogando e lançando respostas. Com um texto discursivo e uma direção mais voltada à linguagem moderna onde os atores e diretor tornam-se um só e através das suas experiências criativas chegou-se ao resultado final com um cenário sugestivo.
A montagem é assinada pelo grupo OPECADO – Oficina Permanente de Criações Artísticas Deus Omni, grupo que surgiu em 2005 quando seus primeiros integrantes montaram o espetáculo cênico “Teatro Nu”, cuja apresentação rendeu-lhes os prêmios de melhor espetáculo e melhor interação com a platéia no Festival de Teatro do Baixo Sul. OPECADO que na verdade não chega a ser um grupo institucionalmente organizado, mas sim um coletivo de artistas valencianos, enquanto Oficina permanente sempre se propôs a fazer arte questionando o seu fazer artístico.

O QUE: Espetáculo Teatral Os Mortos
QUANDO: 31/08 (terça-feira)
ONDE: Centro de Cultura Ensaio
Avenida Leovigildo Figueiras, n 58 – Garcia (Campo Grande)
Salvador – Ba

Autor:
ARAKEN VAZ GALVÃO
Diretor:
JULIANO BRITTO
Iluminação/criação:
JULIANO BRITTO
Figurino
ADRIANO PEREIRA
Cenografia
JULIANO BRITTO
Sonoplastia/criação: CADU OLIVEIRA
Pesquisa: ADRIANO PEREIRA

quinta-feira, 29 de julho de 2010

JORNAL TRIBUNA REGIONAL DENUNCIA FALCATRUA NA EDUCAÇAO VALENCIANA


O jornal Tribuna Regional (edição de Julho de 2010), de propriedade do senhor J. Júnior, traz em suas páginas o caso da professora Roselidiana Farias que recebe sem trabalhar e paga outra professora sem vínculos com o Estado ou o município para lecionar em seu lugar.
Devido a gravidade da denúncia, reproduzimos aqui, trechos da matéria publicada no referido jornal.

“(...) quando uma educadora caminha por atalhos nada condizentes para quem prega moralidade, e exerce um cargo eletivo, só me resta denominar essa atitude de vergonhosa.
Vergonhosa pelo fato de quem deveria dar exemplo de suas comprovadas palavras de integridade moral para com a coisa pública, não corresponder com suas ações negando dessa forma o que prega.
A professora do Estado, Roselidiana Azevedo Farias, que também é vereadora e como tal, presidente da Câmara Municipal de Valença- Bahia, numa atitude explicita de omissão a profissão que escolheu como profissão deixou de exercer a cidadania, ao pagar para que uma outra pessoa exerça sua função de professora na Escola Municipal Getúlio Vargas.
Busquei saber da direção da referida escola sobre a veracidade do fato. Informado pela vice diretora do colégio que era real a informação, porém, a professora Roselidiana Azevedo Farias estava dando entrada em um pedido de afastamento não remunerado, o que foi não foi comprovado pela direção da DIREC 5, órgão representante da Secretaria Estadual de Educação. A direção da DIREC 5, também nos informou que a escola supra citada foi municipalizada, muito embora os professores da rede estadual continuassem naquele estabelecimento de ensino no exercício de suas funções e cabia a Secretaria Municipal de Educação fiscalizar as escolas, em respeito ao convênio celebrado entre o município e o Estado, e qualquer irregularidade denunciar à DIREC 5, para que as providências fossem tomadas.
Diante da informação recebida da direção da DIREC 5, imediatamente entrei em contato (via telefone) coma Secretaria Municipal de Educação e conversei com a secretária da pasta, Professora Adriana Souza da Silva. Perguntei se ela tinha conhecimento do fato, e ela deixou claro que sabia. Perguntada se sendo responsabilidade do órgão fiscalizar os estabelecimentos de ensino do município e denunciar as irregularidades, o porquê de tal fato não ter sido denunciado. Ela em resposta apresentou a justificativa que a professora Roselidiana Azevedo farias estava respaldada na lei que lhe permitia na condição de parlamentar de se ausentar da sala de aula e que a referida professora só tinha esse procedimento nos dias de sessão na Câmara, o que não é verdade, eu provo. Continuando com sua justificativa ela ainda me disse que a profissional de educação questionada – estava entrando com pedido de afastamento não remunerado, assim comprovando o que me havia dito a vice-diretora da Escola Municipal Getúlio Vargas. No entanto, como relatei acima, a DIREC 5, através de sua direção desconhece tal solicitação, pois seria o canal legal para que o pedido fosse feito, por ser a professora Roselidiana Azevedo farias, funcionária do Estado.
Na verdade a professora Roselidiana Azevedo Farias, deverá fazer tal solicitação agora, pelo fato de ser candidata a suplente do candidato a senador José Ronaldo (DEM). Essa é a pura verdade.
Fica aqui a pergunta: por que a professora questionada não fez o pedido de afastamento antes, e ficou recebendo do Estado sem trabalhar? E os meses que ela recebeu, como vai ficar senhora secretaria municipal de educação?
Será que a professora paga para lecionar no lugar da professora Roselidiana Azevedo Farias tem vínculo com o Estado ou o Município? Se não tem por que a titular da secretaria municipal de educação acatou tamanha falcatrua sendo dessa forma conivente?
É assim senhor prefeito que a educação em Valença anda. Oxalá, não existam outras falcatruas. Lembre-se estou sempre de plantão e não me rendo ao poder.
A denúncia está feita, agora cabe a quem de direito apurar a veracidade.
Não acredito que haja qualquer tipo de punição a professora Roselidiana Azevedo Farias, pois tenho certeza que os políticos corruptos, logo encontrarão um jeitinho brasileiro (politiqueiro) de abafar tudo, e ainda vão aos microfones ou outros meios de comunicação com justificativas, que só engana os incautos e cala os protecionistas de falcatruas.”

segunda-feira, 14 de junho de 2010

HENRIQUE MENEZES - ARTISTA DA OCUPAÇÃO CULTURAL PARTICIPA DO FESTIVAL ANUAL DA CANÇÃO ESTUDANTIL


Ainda não estou velho. Mas já vi muita coisa e hoje boto as butucas nos mais novos que eu. É deles que vai sair, obviamente, o que virá de mais moderno. Que revolucionará as artes. Acredito que nós artistas devemos ser a vanguarda. Por isso a arte por mais absurda que pareça aos nossos olhos, embora me assuste às vezes, é a que me provoca e me obriga a refletir.
E por isso venho aqui, publicamente, mesmo correndo risco, prematuramente, lançar um desses nomes: Henrique Menezes. Isso mesmo. Guardem esse nome. Guardem fotos. Registros. Eles valerão no futuro por que este menino tem tudo para estourar se agarrar as oportunidades certas e se o destino não o trair.
Esse menino de um senso de humor nato, com expressões por vezes caricatas e original artista gráfico cujas peripécias sobrepõem-se particularmente nos seus álbuns do orkut, começou timidamente acompanhando ao violão sua irmã (a não menos talentosa Jamile Menezes) nas primeiras apresentações da Ocupação Cultural. Vez ou outra Henrique arriscava-se cantando alguns versos. Coisa pouca. Em novembro, fiz-lhe o primeiro desafio: musicar um dos poemas que seriam lançados no livro Rio de Letras. Ele topou e fez uma versão a la Arnaldo Antunes para o poema “Branco/Negro” de Bira Lima. A TV Face registrou o momento.
De lá para cá Henrique foi perdendo a timidez e passou a apresentar-se sozinho em algumas edições. Em 2010 ele surpreendeu-nos, a mim e a Jamile - conto a história: tinha falado com ela na véspera de mais uma edição da Ocupação. Tava meio que um clima de desânimo visto que Henrique estava agora fazendo cursinho pré-vestibular à noite e estava complicada então sua ida para a Ocupação visto que iria ter que filar aula. Ao mesmo tempo em que falava com Jamile, falava também com Henrique. Ele havia acabado de me confirmar que estaria na Ocupação. Mas eu não disse a Jamile. Por isso a surpresa - Mas o que me surpreendeu mesmo foi Henrique ter filado aula, ele mesmo escolhido o que iria cantar e vim apresentar-se. É claro que eu tinha minhas opiniões de que no seu lugar não só filaria aula como ainda levaria uns colegas e faria ver aos outros que na verdade o idiota é quem continuasse em uma entediante e alienada sala de aula enquanto a verdadeira aula freiriana (contrária à educação bancária, defensora de uma educação democrática e plural onde não existe o que sabe mais e o que não sabe nada e tem que aprender; o que existe são saberes diferentes que dialogam). Mas tudo isso eram apenas minhas idéias. E é obvio que nem todos irão concordar.
Mas voltemos a falar de Henrique. Pois bem, como disse, nesse dia ele surpreendeu-me pela atitude. Pela originalidade. Disse para mim mesmo: - Taí alguém que ta procurando seu espaço e vai conquistá-lo ao seu modo! – Henrique parece que começou a tomar gosto pela coisa – como se diz. Na Ocupação seguinte, lá estava ele. Dessa vez cantou uma música ao violão e... Surpresa! Acompanhado de uma banda ele tocou Índios, do Legião Urbana. Faço questão de citar a música dessa vez por que as semelhanças eram nítidas. Mostrei o vídeo a dois amigos fãs do Legião e tiveram a mesma opinião. Embora Henrique talvez não saiba. A música era considerada dificílima pelo próprio Renato Russo e ele também errava a letra e voltava, tal como Henrique quando apresentou-se.
Agora mais uma surpresa: Henrique está entre os finalistas do Baixo Sul para o FACE – Festival Anual da Canção Estudantil. O título da canção, composta e interpretada por ele e seu colega Leonardo, é “velha correria” (http://www.4shared.com/audio/mFTXDA0I/Velha_Correria_-_FACE_2010.html Se for classificada, irá para a final concorrendo com outras canções de toda a Bahia. Ainda não ouvi as demais canções concorrentes. Se tiver acesso a elas, prometo ouvi-las com a devida isenção em busca da qualidade e sem apadrinhamentos nem camaradagens. Mas por enquanto estou torcendo por Henrique. E convido aos demais para conhecerem a canção e juntos torcermos por este valenciano.
Tenho insistido para ele apresentar a canção na Ocupação Cultural. Não sei se é permitido pelo regulamento do festival, mas gostaria de sugerir às rádios locais, em especial a Comunitária Rio Una FM, que entrassem também nessa e incluíssem-na na sua programação musical. Convidassem os artistas, entrevistassem-nos, valorizassem e tocassem o que é nosso.
Enquanto isso, Henrique segue com a “velha correria” enquanto nós, com o perdão do trocadilho, corremos atrás dele...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Outro mundo é possível! Mas é preciso construí-lo!


No inicio dos anos 2000, a grande novidade era o Fórum Social Mundial com sua convergência de movimentos e ONG’s, unidos sob o slogan “Outro mundo é possível”. A nossa geração não viveu a resistência à ditadura militar, assistiu pela televisão, ainda sem entender, a queda do Muro de Berlim; vimos sucessivas vezes o Lula perder a eleição e, quando ele foi eleito em 2002, já não era o “sapo barbudo” que iria fazer a revolução e obrigar os empresários a se mudarem de país.
Muitos de minha geração, e até os que vieram após - os que hoje ostentam entre seus 19 e 23 anos - cultivam não um desencanto, mas uma apatia generalizada. Uma falta de vontade de que fazer. Até sabem as soluções. Mas limitam-se a descrevê-las. Pô-las em prática requer uma dedicação que estes não estão dispostos. Até por que, muitas estão na “acadimia”... e está ensina que o cientista deve ser neutro para ser respeitado... o que ganharam aqueles que se posicionaram se não ficarem marcados, antipatizados por questionarem? Não. Essa “nova” geração está bem quietinha, preocupada com o desemprego, em como se manter... para que questionar nada, fazer alguma coisa se temos tudo na internet, o celular ao alcance da mão... o que muitos querem é ter dinheiro para sair nos finais de semana, ir a locais seguros...
Lembro-me de Marx na 11 Tese sobre Feuebach: os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”.
Nós, os que insistíamos em “outro mundo” e ainda insistíamos em acreditar nas utopias éramos tão poucos, cada vez menos e tudo tão difícil, que certa vez escrevi um poema:
(...)
Caminhos ainda existiam, mas valeria a pena seguir
se nao haveria ninguem com quem dividir a experiencia?
de que adianta seguir e escrever uma historia pessoal fantástica
se nao há nuinguem para ler e esta se perderá?
medo, panico, angustia, inquietaçao, inconformismo...
enfim, nao ganharei a corrida cujas regras eu defini
nao por que nao possa ganha-la.
Mas, simplesmente por que nao há competidores
muito menos vencedores.
Quem comemorara comigo?
Quem estará la para me abraçar se sigo só?
(...)
Tive momentos de crise. Mas nunca desisti. Mudei de trincheira por várias vezes: movimento estudantil, militância partidária... Ano passado resolvemos insistir em um projeto cultural. A duras penas, remando contra a corrente, há um ano estamos resistindo e a cada 15 dias nos reunimos no que chamamos de “Ocupação Cultural” – um movimento que reúne poetas, músicos, atores e atrizes, bailarinos e diversos outros seguimentos artísticos.
Mas alguns fatos recentes me chamaram a atenção esses dias:

• 600 pessoas compareceram ao lançamento de um livro de escritores valencianos!
• 400 pessoas em pleno domingo, muitas delas, lideranças inclusive, discutindo política com o pré-candidato a deputado federal pelo PT, Josias Gomes.

Uma velha revista Caros Amigos traz em suas páginas duas matérias no mínimo curiosas:

• Pequenos grupos de senhoras idosas, todas com mais de 70 anos, espalhadas em diversas cidades do Canadá, que fazem questão de exibir-se com “vestidos estrambólicos, ridículos chapéus cheios de flores e frutas, xales de crochê rosas e azuis, sapatos vermelhos e roxos, colares enormes de péssimo gosto e bolsa de fazer inveja em qualquer festa brega”. A descrição espanta. Mas o que mais impressiona é o que estas velhas senhoras barulhentas estão a fazer: as “vovós em fúria” são o mais anarquista movimento pró-paz, democracia e direitos humanos. Fazem paródias de velhas canções com letras muito bem humoradas que falam de assuntos como desarmamento nuclear, sexo seguro, o embargo à Cuba, destruição da natureza, exploração de trabalho infantil e escravo, entre outros problemas vigentes. Participam de manifestações e fazem protestos inusitados. Em uma destas atrasaram o deslocamento de uma tropa de choque do exército. Os militares haviam deixado um tanque de guerra ‘estacionado’ na rua durante a noite; dia seguinte, quando foram retirar o veículo encontraram um grupo de animadas senhoras que, enquanto cantavam sátiras ao exército, tricotavam uma rede ao redor do tanque. Numa outra manifestação foram elas que salvaram os jovens estudantes quando se postaram à frente deles, impedindo que a polícia soltasse os seus cachorros e atirassem gás de pimenta na manifestação. O que motiva uma senhora de mais de 70 anos a sair de casa quando poderia ficar em casa cuidando de sua “velhice”? Lassy Abboth, 69 anos, participante de um dos grupos é que responde: “O mundo que estamos deixando para nossos netos não é bom de viver e percebemos que cabe a nós zelar pelo direito que eles têm de sonhar e chegar à idade adulta como seres humanos felizes. Não há mais tempo a perder, por que aqueles que estão destruindo o nosso planeta são eficientes e poderosos. Muito velhas? Não, não somos velhas, somos sábias. Além do mais, não temos filhos ou empregos para cuidar, e teríamos tempo de ir pra cadeia”.

• Em São Paulo, um médico conhecido como Dr. Quixote rompe o silêncio e, mesmo com toda a perseguição, denuncia os colegas que se escondem numa pseudo-ética profissional para acobertarem mortes de seres humanos por negligência médica ou falta de condições nos postos médicos, hospitais e clínicas. Dr Ronaldo Fiori, junto com outros colegas passou a registrar boletins de ocorrência nas delegacias policiais, eximindo-se da culpa e denunciando a falta de estrutura. Mas não fica só nisso. Analisa prontuários ajudando a famílias em processos judiciais e lançou o manual: Erro Médico: Defenda-se.

São situações aparentemente desconexas. Mas em todas elas, percebe-se a presença de pessoas que não desistiram. Que continuam. Como dizia o Carlos Nelson Coutinho: “pessimismo da razão e otimismo da vontade”.
Sou de uma geração que ‘apanhou’ muito de outras mais velhas quando diziam: - Vocês não são de nada! Um bando de alienados! Mas o que tem a ver tudo isso com a juventude da minha geração? Tem bastante, se considerarmos que boa parte dos presentes eram os jovens dos quais estou falando e a outra parte era dos “mais antigos” que não desistiram e continuam batalhando. Não se colocam numa posição superior e têm a coragem de se misturar com os jovens. São jovens que não se envergonham de estar ao lado dos mais velhos. Os respeitam, mas também são ouvidos e respeitados por estes. Sabem que o mundo está cada vez mais difícil para ambos. É preciso então que nos juntemos pelo que nos une ao invés de afastarmo-nos pelas pequenas diferenças. Alguém já cantou que “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. Mas como cantou alguém mais novo “se o velho não pode cuidar de suas rugas, o novo já nasce velho”.
Lembro de Franco, italiano, septuagenário, me batendo ao ombro e dizendo num tom quase que galhofeiro:
- Oh, Adrianinho, na minha época se dizia que até os 30 devíamos ser incendiários. Depois dos 30, poderíamos ser bombeiros. E tu já queres ser bombeiro!
- É isso. Ainda me restam 3 anos de muito gás para queimar pestanas, detonar velhas estruturas e acender algumas chamas. Então, vamos lá!

P.S: Este texto já estava pronto. Mas não poderia deixar de registrar uma cena que vi ao final de um concurso de poesias. Ao final da cerimônia, uma senhora de 85 anos sobe ao palco e, mesmo sem acompanhamento, canta: “Se Amália não quiser ir, eu vou só!”
Espera que eu também vou...

domingo, 18 de abril de 2010

Por que não uso O Boticário


- da força da grana que ergue e destrói coisas belas -

A frase título desse texto não se trata na verdade de uma anti-campanha publicitária. Muito pelo contrário, é ideológica.
Explico. Em 2006, circulou pela cidade um jornalzinho produzido por artistas denunciando com veemência a destruição do patrimônio histórico arquitetônico de Valença. Na época, o jornal trazia como manchete de capa a tentativa de destruição de um dos últimos casarões existentes no calçadão. Chamou a atenção para o fato e conseguiu temporariamente suspender a demolição. Até que um dia, o movimento se enfraqueceu e malgrado os protestos, num final de semana, na surdina, o casarão veio abaixo.
O tempo passou. O jornal acabou. Sua autora, a poetisa Celeste Martinez cansou de bradar e não ser ouvida e preferiu falar para crianças. Dedica-se hoje à um programa literário numa rádio local dedicado às famílias valencianas. É louvável. Afinal não nos dizem o tempo todo que as crianças são o futuro? O problema é que não sei se haverá tempo para elas crescerem.
Passaram-se anos e uma construção começou a ser erguida imponente, arrastando-se por longo período, poluindo com seus tapumes a fachada do nosso já não tão belo calçadão. Do sobrado, já nada restava. E eu aguardava curioso: - Qual loja se instalaria ali com sua fachada berrante? Recentemente soube pelo jornal: “As novas instalações da Loja O Boticário”.
Aí pensei em iniciar uma campanha: - Tal como os consumidores estrangeiros que organizam boicotes contra empresas como Mc Donald’s e coisas do gênero que utilizam trabalho escravo ou fabricam seus produtos sob condições insalubres, por que não boicotar os produtos que cheiram tão bem para esconderem em suas fragrâncias odores de destruição.
Guardadas as proporções e retirados os exageros, o Boticário não cumpre a sua função social empresarial ao não preservar o patrimônio arquitetônico da cidade onde está instalado. Preservar o antigo casarão seria um exercício de cidadania e melhoraria bastante a visão positiva dos consumidores. Mas, infelizmente, o Boticário preferiu a modernidade, o design arrojado... ao invés de brindar-nos com um requinte de um casarão soberbo e ao mesmo tempo sóbrio que valorizaria ainda mais seus produtos. É pena.
Finalizaria este artigo louvando a atitude de lojas como a Rio Mar, que mantinha o único casarão restante, praticamente atochado entre placas e fachadas de outras lojas sobrepondo e escondendo sua beleza. Mas este artigo atrasou. E agora, tenho que finalizá-lo com mais uma notícia triste: este casarão também veio a pique e soçobrou ao chão nas últimas semanas. A chuva fria que caia e os dias tristes parecem que choravam, derramando nas ruas do centro da cidade as lagrimas que os seus filhos não tiveram coragem de vertê-las. O casarão caiu. Em seu lugar, logo uma modernosa loja irá surgir e ninguém mais se lembrará do antigo sobrado. E assim, vamos esquecendo nossa história. Que importam nossas raízes?
Na descida do calçadão para a praça, mais precisamente na conhecida ladeira da antiga Casas Pernambucanas, encontra-se mais um sobrado. Neste, residia o poeta e compositor boêmio Paulinho Queiroz. Os mais antigos hão de lembrar daquele ser enigmático e inebriado com sua branca cabeleira a errar pelas ruas do antigo cais do porto. Mas poucos sabiam do seu talento ao violão, sua paixão pela bossa, que o levou a compor músicas como “história em D”, entre outras. Paulinho faleceu. A sua última residência encontra-se fechada e abandonada. À frente, uma horripilante faixa em tons garrafais: “Vende-se este ponto comercial”. É uma residência ainda, com assoalho de madeira e janelões na fachada. Mas os vendedores insistem em transformá-la desde já em ponto comercial. Talvez para valorizar ainda mais sua venda. É triste.
Ao que me consta, Paulinho era irmão da poetisa Rosângela Queiroz. Relembro os versos de sua comovente “Canção sem exílio: “vejo os sobrados dormentes/ escorados no cansaço da praça” – o resto da poesia pode ser conferido no recentemente lançado “Rio de letras”. Mas para que a poesia se materialize fora do papel e seja, toda ela, presença na cidade, faço aqui um apelo. Recuperem o casarão. “Não permita Deus...” que este também vire objeto da especulação imobiliária. Como dizia Caetano, “da força da grana...”. Transformem-no ao menos num monumento à família Queiroz. Uma instituição privada. O que quer que seja. Mas não privem os nossos e o futuros olhos de ao menos poder olhá-lo sua fachada e saber da sua história. Assim, será possível entoar com mais propriedade os versos: “Ah, eu não morro sem ver/ essa cidade vim a ser/ o que perdeu de seu...”

terça-feira, 13 de abril de 2010

PLENÁRIA DE JOSIAS REÚNE MAIS DE 400 PESSOAS


Cerca de 400 pessoas participaram neste domingo (11), no Auditório da Churrascaria Líder em Valença, da Plenária para discutir a atual conjuntura política no país. Caravanas vindas de Camamu, Ituberá, Igrapiúna, Nilo Peçanha, Gandu, Teolandia, Ibirapitanga e Piraí do Norte, lotaram o auditório. O evento contou com a palestra do ex e pré-candidato a deputado federal Josias Gomes que fez uma retrospectiva da luta do Partido dos Trabalhadores e as consequências para as transformações sociais a partir do governo Lula. Também, o presidente da CUT/Bahia Martiniano Costa participou do evento. Martin destacou que “o povo voltou a se encantar com a política”. Depois, citou as conquistas que Valença conseguiu através de Josias Gomes quando este foi deputado. “Graças ao empenho de Josias conquistamos o Banco do Nordeste para Valença”. O presidente da CUT também lembrou o envolvimento direto da entidade buscando a redução de 44 para 40 horas semanais de trabalho para todos os trabalhadores do país.
Dois assuntos povoaram as discussões: a conquistas dos trabalhadores e das classes menos favorecidas com os oito anos do governo do presidente Lula; e a parcialidade da Rede Globo de Televisão, que segundo Josias Gomes, tem sido tendenciosa e está favorecendo o candidato do PSDB a presidência da República José Serra.

Retirado do Portal do Baixo Sul

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A RIQUEZA DE UM MESTRE ESCRITOR



Por Jocenilson Ribeiro
Seria um detalhe qualquer e, talvez, menos importante ainda se o ato de abrir um livro e degustar as palavras com os olhos atentos fosse costumeiro no dia-a-dia dos brasileiros. Poderíamos dizer que tomar um livro e só fechá-lo após a leitura da última página não nos chamaria a atenção se tal hábito fosse tão corriqueiro e como o é a alimentação diária, porque, se o alimento nos proporciona reposição de energia - imprescindível à vida - do mesmo modo, a leitura pode ser encarada como fonte de conhecimento capaz de nos salvar da ignorância e possibilitar a competência criativa que dá sentido a nossa vida. De onde partiu essa reflexão? O que a motivou? Logo o leitor saberá!
Depois de um feriado prolongado coadunando Réveillon numa quinta-feira, primeiro dia do ano numa sexta e, de brinde, um sábado e domingo de sol nas praias do litoral sul da Bahia, qualquer sacrifício ou óbice numa segunda-feira de volta para casa vale a pena. Até mesmo uma fila quilométrica como aquela que encarei por exatas quatro horas e quarenta minutos no terminal marítimo de Bom Despacho para pegar o ferry boat com destino a Salvador.
Em meio ao calor, pessoas esparramadas por todos os lados confundindo-se com suas sacolas, crianças, bagagens, furadores de fila tentando se aproveitar do cansaço alheio, ambulantes buscando ganhar o pão, conversas dos comboios confundindo-se com os gritos de alguns gaiatos que, sem saber reivindicar o descaso com os serviços de transportes, pareciam rebeldes sem causa... tudo isso só me fez desejar um bom livro e mergulhá-lo nele até que alguém me avisasse: “jovem, é a sua vez de passar no guichê”.
Enquanto não avistava o tal guichê, e faltava mais de três horas para dele me aproximar, abri a mala e retirei o livro de crônicas A riqueza do detalhe, do professor e escritor Moacir Saraiva. Reli a dedicatória “Amado aluno, tu és um vitorioso porque sabes observar os detalhes da vida” e pus-me a pensar sobre essa assertiva por um bom tempo: qual era a minha vitória? Sem chegar a uma conclusão, comecei a manusear o livro como um menino que ganha um barco de papel e não sabe se o põe no rio ou evita que o curso da água lhe roube a pequena embarcação e o entregue a outra margem do rio.
Inicialmente observei as informações técnicas da obra, diagramação, editora, número de páginas, ficha catalográfica, número de crônicas, seus títulos curiosos, a capa e biografia do autor na orelha. Por um instante, rememorei meus três anos de segundo grau quando tive o privilégio de iniciar-me na literatura e estudos de língua com o professor Saraiva - era assim que a ele nos referíamos nos espaços do CEFET, hoje IFBA. O tempo passou, e já faz dez anos que sinto saudade dos tempos em que ouvia alguns de seus jargões afetivos como, por exemplo, “alunos são criações do diabo”. Só homens de letras como Moacir sabem usar as palavras ao avesso ou ressignificá-las positivamente.
“Moço, a fila anda” - alertou-me a senhora que vinha atrás de mim. Obrigado, eu disse. Corri os dedos entre as páginas para ler uma crônica qualquer entre as 34 que compõem o livro, mas mudei de ideia. Por que não começar do começo?
A crônica de título homônimo à obra me veio como uma lição filosófica, e alguns enunciados me fizeram pensar muito sobre aquele momento, aquele aglomerado de pessoas aflitas por voltarem para suas casas e viverem suas individualidades. Eu queria minha individualidade, e o livro certamente me possibilitaria o prazer de resgatá-la e me sentir “um vitorioso” como disse o mestre escritor. A crônica traz uma reflexão acerca da valorização do detalhe, a riqueza que a constitui e nos constitui enquanto sensíveis à diferença, intérpretes de significados do mundo que nos cerca. Para Moacir, perceber a riqueza do detalhe é, por exemplo, “escutar aquilo que não é ouvido por ninguém”, é ouvir “sussurros longínquos, batimentos cardíacos de um beija-flor”. Quer poesia melhor que essa? Certamente haverá mais no decorrer das narrativas, eu pensei.
Minha leitura seguia muito mais rápida que a fila ao sol a pino, e eu talvez fosse um detalhe na multidão, já que o livro em punho me excluía dos iguais. Por outro lado, o livro me fazia alvo a ponto de incomodar os que tinham pressa: “cara, você não poderia ler e prestar atenção à fila?”, disse um homem incomodado. A leitura me roubava a atenção... pouco me importava com a fila.
À medida que ganhava as páginas, percebia a riqueza literária de cada texto, e sua linguagem simples me aproximava das histórias e fatos do cotidiano que poderiam ser contados por qualquer uma pessoa versada nas letras; contudo, jamais teríamos o prazer de ler tais crônicas sem a arte de Moacir Saraiva. Como um mestre da escrita atento à forma, ao discurso, à estética e à originalidade com que se escreve o texto, Moacir nos apresenta desde uma semântica de expressões populares a uma pitada de história das palavras como greve, aluno, barbeiro, cabeleireiro, podador, onzeneiro.
Se o humor e o riso são recorrentes em crônicas como Guardador de banha, ‘Esqueça, delegado’, O podador, Guerra Santa e “Fazer feira”, a ironia suavizada em metáfora se faz presente em Suicídio dos Peixes, Os donos do mundo, A aparência, O profissional “intruso” entre outras excelentes crônicas, convocando-nos a pensar acerca de questões cotidianas em que aparecem em voga o egocentrismo, a consumismo e a arrogância que contaminam a sociedade atual.
Por outro lado, não é difícil notar o próprio Moacir lecionando para o leitor como se tivesse diante de uma classe de aprendizes quando não em sala de formação de professores. Peraltice de aluno, por exemplo, veio-me como um dos textos de dupla função: b) resgatar as memórias de moleque do tempo em que eu e meus colegas subvertíamos a norma que pretendia nos enquadrar à condição de aprendizes comportados quando não quadrados; e b) ensinar-me como ser mais esperto no exercício da docência, subvertendo as peripécias da garotada sem perder a sensibilidade com o alunado e a compostura de educador, já que, conforme Moacir Saraiva, “o aluno, muitas vezes, procura criar embaraços aos professores a fim de ver a reação para depois rir da cara do mestre”.
De todas as crônicas que havia lido naquela tarde de sol forte em meio à multidão enfileirada, As chinelas, a meu ver, tinha uma especificidade que lhe categorizava aos moldes do conto moderno do que da própria crônica. Digo isso porque, com base em clássicos da crítica literária brasileira como Antônio Cândido, Afonso Romano, Massaud Moisés, o gênero conto depreende uma narrativa breve, rica em detalhes essenciais ao propósito da construção literária. Os personagens e a trama em que se circunscreve o acontecimento põem o texto na mesma dimensão de narrativas de Dalton Trevisan e de Rubens Fonseca tanto no que tange à estética quanto à própria brevidade com que conta fatos cotidianos. Enfim, nada melhor que um texto desse predicado para fechar A riqueza do detalhe.
Ainda li a última crônica quando estava próximo do saguão de embarque do ferry foat, e senti vontade de voltar a outras de igual qualidade a As chinelas. No entanto, fechei o livro assim que me dei conta de que seria o próximo a passar no guichê. Embora tivesse certeza de que estava ali por bastante tempo, a leitura encurtou o caminho, reduziu as horas e me ensinou muito naquela tarde. Olhei para trás e vi a fila dando voltas, e, até onde os olhos puderam alcançar, percebi que ninguém trazia um livro em mãos para encurtar distâncias, para diminuir a ignorância social, para ajudá-lo a enxergar os detalhes além daquilo que saltam aos olhos da multidão e nos coloca em bloco dos iguais.
Com A riqueza do detalhe, o professor Moacir nos dá uma aula de sensibilidade e apreço à vida simples e aos valores do homem que ainda resiste ao tecnocentrismo e aos males do capitalismo agressivo que tenta nos cegar. E com este livro, Valença, aos poucos, ganha um espaço na literatura baiana ao passo que convoca os filhos dessa terra nunca vencida a ler, a escrever e a pensar porque Moacir Saraiva, entre outros, já começou. Concluí que sou sim um homem vitorioso, sobretudo por ter sido fruto dessa terra e aluno deste mestre escritor.

P.S: Conforme anunciei no Jornal Costa do Dendê, aí está a resenha sobre o livro do Professor Moacir. Como a que estava escrevendo não ficou pronta, estou publicando a do colega Jocenilson, que muito nos orgulha desde o tempo em q fazia teatro conosco...
Acima, na foto, Moacir e Railton Ramos - editor do Costa do Dendê

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Um manifesto à História


“Eu não anistiei ninguém!”

O Brasil vive um raro momento de passar a limpo a sua história e esclarecer o obscuro período ditatorial que marcou não só fisicamente, mas, psicologicamente centenas de cidadãos e cidadãs que pagaram caro, quando não, com a própria vida, pára podermos afirmar que somos uma democracia, se não de fato, ao menos no papel.
Trata-se da criação da Comissão de Verdade, proposta recentemente pelo Secretário Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanuchi, cujo objetivo é abrir os arquivos da ditadura, bem como ouvir testemunhas que possam ajudar a esclarecer os crimes hediondos cometidos por militares como torturas, estupros e assassinatos do mal fadado regime de exceção que, felizmente não figura mais nos livros de História como Revolução e sim como Golpe Militar.
Como disse em entrevista o próprio secretário: “É preciso convencer as Forças Armadas que se a justiça mandar pra cadeia uma dúzia, duas dúzias de torturadores, como a Argentina, o Chile e o Uruguai fizeram, muito oposto de isso representar uma vergonha para as Forças Armadas, representará para o Brasil a manifestação de que As Forças Armadas aprenderam a distinguir. Nós temos que fazer essa transição, esse processamento, para nos orgulharmos das nossas Forças Armadas”.
Assim, a Comissão proposta, não traz em si nenhum caráter revanchista, como tem sido alardeado, num corporativismo mesquinho, parte das Forças Armadas, em especial o seu alto comando na figura do Ministro Jobim. A função da Comissão é estabelecer, como o seu próprio nome já diz, a verdade.
Trata-se de um processo catártico necessário e urgente, pois manter a obscuridade ou o silêncio é permitir que nossa história continue maculada, sem podermos virar esta triste página.
Trata-se de respeito às vitimas, aos seus entes e, numa escala menor, mas não menos importante, o direito às novas gerações conhecerem os fatos sem escaramuças nem omissões.
É neste sentido que existem, por exemplo, exposições, documentários e monumentos aos horrores cometidos às vítimas do Holocausto no regime nazista. É por esta razão que os campos de concentração foram abertos à visitação pública: para que não esqueçamos nunca as desumanidades praticadas e não cometamos de novo os mesmos erros e atrocidades.
“Vamos resolver, mergulhar nisso, se doer, deu, se chorar, chorou, se arranhar a imagem, arranhou. A Alemanha tem a capacidade de discutir no seu sistema escolar o nazismo, que, como proporção, é muito maior do que a violência aqui praticada, tem museus sobre o nazismo em Berlim, então o Brasil tem que se espelhar nesse exemplo e fazer...”
No Brasil, a ditadura militar torturou um sem número, mutilou, assassinou centenas, exilou outros tantos e desestruturou a vida de milhares.
Alguns casos são conhecidos e viraram referências como Vladimir Herzog, Lamarca, Marighela, Edson Luís, Rubens Paiva, Frei Tito, Zé Dirceu, Dilma Rousseff e tantos outros. Aqui mesmo em Valença, temos gente como Araken Galvão, exemplo vivo da resistência militar ao próprio regime. Nunca esquecerei, por exemplo, quando lhe entrevistei na Rio Una FM e percebi o seu silêncio comovente quando executávamos a música “O bêbado e a equilibrista”, escrita por Aldir Blanc e João Bosco em homenagem aos exilados brasileiros. Como não esquecerei também figuras com quem tive o prazer de conviver na minha trajetória no Movimento Estudantil: Acácio Araújo, Jhones Carvalho, Emiliano José, Seu “Totoca” e tantos outros...
É por esta razão, em respeito a estes brasileiros, que faço um apelo aos meus amigos historiadores, militantes partidários, lideranças do Movimento Estudantil, entidades de classe, lideranças religiosas, movimentos populares... para que se posicionem em defesa da verdade.
Vamos fazer um grande movimento, re-ocupar as ruas se preciso for, as praças... por que esta verdade precisa vir à tona. Para que nossos mortos descansem em paz e nós também possamos continuar a viver em paz com nossas consciências, pois como disse um outro agitador: “se esses homens se calarem. Até as pedras falarão!”

ABERTURA DOS ARQUIVOS JÁ!
PELO DIREITO À MEMÓRIA E A VERDADE!

Adriano Pereira, 27 anos, foi presidente do Grêmio Estudantil Edson Luís de Lima Souto (EMARC-VA), da UMES- Valença, diretor da Associação Baiana de Estudantes Secundaristas e atualmente é Secretário de Formação Política do PT- Valença.