quinta-feira, 17 de setembro de 2009

QUATRO ELEMENTOS SURPREENDE EM SHOW NESTA TERÇA


Otávio Mota, que como todo poeta, é especialista em frases de efeito, por vezes profere também sentenças que soam até como profecias. Certa vez ouvi dele: “Quando a produção começa errada, não tem jeito!”. E se houve uma coisa que a banda Os 4 elementos começou acertando, foi na produção.
Experiente, Ricardo Lemos é um dos poucos produtores que todo artista ou grupo em Valença gostaria de ter ao lado, pois sua produção, se não é impecável, ao menos se esforça para sê-la. Quem teve o privilégio de cair em suas mãos sabe do que estou falando. Pois bem, após uma intensa campanha coordenada por ele através de todos os mecanismos e meios de divulgação, eis que aconteceu finalmente, nesta terça feira o anunciado e esperado show.
Embora a casa não estivesse cheia, registre-se que para uma terça-feira, numa cidade como Valença, onde infelizmente muitas vezes o público paga caro para ver atrações duvidosas e não costuma valorizar a “prata da casa”, prevalecendo o adágio de que “santo de casa não faz milagres”, parece-nos que a escolha foi acertada e Ogum forçou a mão para não deixar seus filhos desamparados na sua terça... não foi à toa que David Terra rendeu-lhe oferendas ao cantar no meio do show “Ó paim de Ogum”...
Com a licença poética de Celeste Martinez, Água, terra, fogo e ar... os quatro elementos conspiraram a favor... e a harmonia provocada por um som de boa qualidade, com um grupo bem entrosado aconteceu, realizando um show muito melhor do que o que vinha sendo mostrado nos ensaios e deixando o público presente satisfeito com o resultado.
Ponto alto, próximo do êxtase, quando começaram a soar os acordes da “zambiapunga elétrica” provocando uma espécie de transe coletivo não só no grupo, como também na platéia que vibrava e marcava com palmas e gritos os sons das enxadas... o que, ao nosso ver, deveria ser mais trabalhado pelo grupo visto que se trata de uma manifestação genuína de nossa região que encanta a todos.
É claro que, alguns pontos precisam ser melhorados talvez com uma boa direção artística dando uma visão mais limpa e homogênea do trabalho para que determinadas músicas, falas e imagens não fiquem meio deslocadas, repetitivas e desconexas, prejudicando assim a harmonia e o trabalho como um todo. Houve também alguns lapsos que podem também ser prejudiciais ao grupo e precisam ser revistos, mas preferimos atribuí-los ao costumeiro “nervosismo de estréia”.
No mais, valeu a intenção, pois, como foi dito ao final do show: “A semente foi plantada...” No entanto, preferimos encerrar com uma espécie de conselho dado por Cazuza em uma de suas músicas: - “Vai à luta, por que os fãs de hoje são os linchadores de amanhã!”

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O rock errou!


A frase é velha e nem um pouco original. Mas é provável que em nenhuma outra língua, dada a semântica da palavra, o trocadilho seja mais adequado. Por que o rock é mesmo um erro! É errante! Não adianta querer explica-lo, enquadra-lo, nem procurar lógica no rock! Não há nem deve haver lógica no rock por que ele é transgressão. É contestação! É revolta! E só!
E antes que meus amigos roqueiros queiram contestar-me ou mesmo apedrejar-me, explico: não há nada de errado (com o perdão da repetição) nisso! Não devem deixar de ouvir nem fazer rock! Mas não devem ficar apenas nisso, pois a revolta, a rebeldia, o questionar é o estágio inicial. É, digamos, o despertar!
Se formos analisar qualquer roqueiro que se tornou “grande”, veremos que houve uma evolução ‘gradativa’ em sua obra... começou cantando trivialidades, na maioria simples até demais como brigas com a namorada, paixões mal resolvidas, passou a falar de problemas do cotidiano, foi ampliando, tocou em grandes temas e ai... deixou de fazer rock!
Foi assim com Renato Russo, com Raul Seixas, com Arnaldo Antunes e depois Nando Reis, com Cazuza, Frejat... isso para ficarmos apenas nos ‘grandes’ do chamado “rock brazuca”...
Agora em Agosto faz 20 anos que o “maluco beleza” nos deixou... dada a sua importância capital para o rock, para a Bahia, para a música e para muitos em particular, não poderia deixar de fazer aqui também a minha homenagem...
Como muitos, cresci ouvindo Raul, mesmo sem saber de quem se tratava de fato, depois estudei-o mais a fundo e durante anos suas músicas marcaram fases da minha vida... seria enfadonho, no entanto, desfilar aqui um repertório de canções que poderiam figurar nessa trajetória visto que cada um deve ter também o seu repertório particular e suas histórias... falar da importância da obra de Raul ou fazer uma análise de seu trabalho é também desnecessário. Muito já foi escrito sobre isso, por gente melhor que eu, inclusive.
Que fazer então?
Nesses momentos é comum a típica frase: “se ele tivesse vivo...estaria dizendo ou fazendo tal coisa...”. Os que me conhecem sabem que não sustento essas opiniões. Acho que todos morreram no tempo certo. E com Raul não foi nem é diferente! As especulações são muitas e tentadoras: os mais radicais que apostam que Raul também já teria se vendido ou, para usar suas próprias palavras: se rendido ao monstro sist (leia-se sistema); os mais fanáticos bradarão: - Não! Raul continuaria esculhambando a tudo e a todos e compondo de forma original!
Mas como ele não está mais aqui, a dúvida persegue-nos, Como diz um personagem de Eça de Queiroz: “nos achamos como o homem que vê a uva na vinha, suspensa, sem secar nem amadurecer...”
Que fazer? Se é que esta resposta é possível, creio que quem melhor conseguiu incorporar o espírito das idéias de Raul e melhor nos deu essa atualização foi um outro baiano embora mais antigo, mas extremamente moderno, para deleite de uns e despeito de outros, Com vocês, Caetano Velloso em Rock’n’Raul, a qual reproduzo a letra abaixo. Confiram e deixem suas opiniões:^

Quando eu passei por aqui
A minha luta foi exibir
Uma vontade fela-da-puta
De ser americano
(E hoje olha os mano)
De ficar só no Arkansas
Esbórnia na Califórnia
Dias ruins em New Orleans
O grande mago em Chicago
Ter um rancho de éter no Texas
Uma plantation de maconha no Wyoming
Nada de axé, Dodô e Curuzu
A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul
Rock'n'me
Rock'n'you
Rock'n'roll
Rock'n'Raul
Hoje qualquer zé-mané
Qualquer caetano
Pode dizer
Que na Bahia
Meu Krig-Ha Bandolo
É puro ouro de tolo
(E o lobo bolo)
Mas minha alegria
Minha ironia
É bem maior do que essa porcaria
Ter um rancho de éter no Texas
Uma plantation de maconha no Wyoming
Nada de axé, Dodô e Curuzu
A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul
Rock'n'me
Rock'n'you
Rock'n'roll