segunda-feira, 31 de outubro de 2011

NESSA SEXTA TEM CINEMA NA MaCRo


Para os amantes da 7ª arte, numa parceria com o campus XV da UNEB em Valença, estamos iniciando nesta sexta 04/11, às 18 horas, um projeto de exibição de filmes (curtas e longas).
O projeto ainda está em construção e aberto a sugestões.

Nesta sexta, nossa programação se iniciará com a exibição do filme alemão BAGDÁ CAFÉ

Segue abaixo uma breve resenha sobre o filme:

Bagdad Café (1988)

O filme é sobre a amizade, que surge entre duas mulheres totalmente diferentes: Jasmin, alemã/ branca/rica e, Brenda, americana/negra/pobre, têm em comum o fato de terem sido abandonadas pelos seus respectivos maridos;
Jasmin é abandonada numa estrada pelo marido, então ela vai até uma pensão/ hospedaria, que fica numa região chamada “Bagdad Café”, cuja dona é justamente Brenda; essa região se localiza entre a Disneylândia e a cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos; as duas no começo se estranham, mas ficam, aos poucos, muito amigas; destaque para a belíssima participação coadjuvante de Jack Palance, como Rudy Cox, o novo interesse amoroso de Jasmin;

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

CARTA RASGADA EM RESPOSTA A MARIA SUELMA


( para ser lido ao som de Gal – Fatal, cantando Luz do Sol)

Era agosto e eu ainda vivia um inverno que começou em março, como poetizou Juliano num verão de rachar/ Que faz o mundo mais friorento/ Do que os homens queriam suportar...
Aí apareceu Maria. Outra Maria. Branca de pele, com suas contas de logum edé para ensinar-me a beleza de todos os matizes, superando a dicotomia do preto-branco. Mulher, com sua sensibilidade, a demonstrar-me que um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria/ que o mundo masculino tudo me daria/ do que eu quisesse ter...
Com simples toques, re-educou-me a reconhecer meu corpo/mente como unos re-significando sons e palavras em várias velocidades, rotações. Seu silêncio falava-me tanto... e apresentou-me três p(r)o(f)etas: Grotowsky, Brook, Artaud, com quem eu pudesse dialogar nos momentos de solidão e tirar minhas próprias conclusões do que estava escrito. Maktub.
Maria me deu régua e compasso...Lentamente ela foi me re-ensinando a encontrar a vida/poesia das borboletas e foi até estranho, a gente nem deu conta/ talvez na outra ponta, alguém pudesse pensar/ menino vagalume, flor, menino estrela, a brisa mais forte veio te buscar/ pra temperar os sonhos e curar as febres/ inserir nas preces do nosso sorriso /brincando entre os campos das nossas idéias/ somos vagalumes a voar perdidos...a voar perdidos...
Chegou setembro e um vento na roseira espalhou a primavera... rompendo os muros da Casa de Maria, estávamos nós no Centro de Cultura. Entre coxias e camarins um espetáculo acontecia sendo presenciado por poucos privilegiados: eu, Cadu, Juliano e Otávio. Nossas vozes ecoando através de exercicios que ao que parece haviam sido esquecidos, ao menos por mim. A concentraçao, o cuidado...
A primavera chegou e marcamos nosso solsticio para 15 de Outubro. Precocemente brotaram Marias, Sofias e tantas mulheres e homens ocupando a Casa MaCRo, afinal um galo sozinho não tece uma manhã/ ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele/ e o lance a outro; de um outro galo/ que apanhe o grito de um galo antes/ e o lance a outro; e de outros galos/ que com muitos outros galos se cruzem/ os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos...
Antes de partir, como se já não tivesse me provado que ainda sou o mesmo menino/ que não dorme a planejar travessuras/ e fez do som da sua risada um hino, ela me escreve uma carta aberta a qual transcrevo abaixo pois não posso/devo guardar apenas comigo algo tão grandioso.
Forte Abraço Sue, segue em frente, sem medo, pois és águia, mas não esquecerá jamais o chão onde plantaste e colheu flores!

A Adriano, Gilberto e amigos da MaCRo,
Foi assim que cheguei...
Fui levada ao quintal e sentei com Adriano e Gilberto à sombra de uma mangueira, um limoeiro e um pé de acerola. E me convidaram para participar de um sonho. Como dizer não naquele tão lindo quintal? Como esconder meu desejo imediato de que aquele projeto desse certo? Disse sim. E dizer sim para um sonho é dizer sim para a vida, é abrir a porta que dá acesso a outros sonhos.
Adriano Pereira, ao me trazer para a Casa de Cultura Maria Cláudia Rodrigues, me trouxe para perto do lugar onde a vida pulsa em mim, me deixou livre e, quando vi, estava a arrumar o Quarto Crescente e a esperar pelo 15 de outubro de 2011. Estava dizendo sim para mais um sonho.
Companheiro como poucos, Adriano teve a tranquilidade de se manter ao meu lado diante dos meus medos e das minhas inseguranças. Andamos juntos naquela linha – a tão famosa linha! – que se estende entre o que fomos e o que poderemos ser, correndo o risco de cair em terra infértil e não germinar.
E assim tem sido meu amigo Adriano, um companheiro de travessia, na vida de muita gente. É um equilibrista, vive com o seu corpo inteiro. O que disse Paulo Freire se aplica à existência desse amigo: “ A paixão com que conheço, falo ou escrevo não diminuem o compromisso com que denuncio ou anuncio. Sou uma inteireza e não uma dicotomia. Não tenho uma parte esquemática, meticulosa, racionalista e outra desarticulada, imprecisa, querendo simplesmente bem ao mundo. Conheço com meu corpo todo, sentimentos, paixão. Razão também.”
Mas devo ainda falar do nosso belo jardineiro, Gilberto, que sabe nutrir cada flor dando o que ela precisa. Que nutre a rosa com a sua conversa delicada, o cacto com o seu silêncio, e as flores do mato com o seu olhar apaixonado. E se apaixona e se apaixona e se apaixona... e cuida, com boniteza, da terra... e atrai novas flores para o jardim... ao seu lado somos flores e cuidamos de flores.
Andamos então pelo alto como equilibristas e pela chão como jardineiros...
Temos o ar e a terra, o corpo e seu olhar, o equilibrista e o jardineiro... e Gilberto e Adriano são hoje os que diretamente regem a Casa de Cultura Maria Cláudia Rodrigues , e muitos outros são os que fazem parte desse sonho. Muitos vão chegando e vão sonhando. E vão fazendo o sonho real. Porque em terreno fértil a semente tende a germinar, não é Drico? E vem as flores e as borboletas (são tantas as borboletas!) e os frutos e as novas sementes.
A Adriano e a Gilberto, sobretudo a eles – mas aos outros também – agradeço por essa linda primavera que estamos vivendo juntos. E desejo toda a sabedoria necessária para que não esqueçamos de cuidar do jardim quando chegar o novo inverno.
Sigamos em frente com o ciclo de vida-morte-vida. Porque esse princípio é comum a tudo o que vive. Abramos os nossos sentidos para o que é natural. Festejemos juntos a passagem de cada estação, dando ao nosso jardim a liberdade de morrer para se manter vivo e de renascer quando for a hora.
Eu, que depois de passar por esse lugar especial não sou o que fui nem o que serei, que não sou raiz nem folha nem flor nem fruto, que estou sementinha voando no bico de um passarinho para novas paragens, levo comigo a lembrança do equilibrista e do jardineiro e dos muitos encontros vividos nessa primavera na Casa de Maria.
Obrigada, Casa de Cultura Maria Cláudia Rodrigues! Obrigada, Adriano! Obrigada, Gilberto!

Abraço forte e carinhoso,
Suelma