quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O rock errou!


A frase é velha e nem um pouco original. Mas é provável que em nenhuma outra língua, dada a semântica da palavra, o trocadilho seja mais adequado. Por que o rock é mesmo um erro! É errante! Não adianta querer explica-lo, enquadra-lo, nem procurar lógica no rock! Não há nem deve haver lógica no rock por que ele é transgressão. É contestação! É revolta! E só!
E antes que meus amigos roqueiros queiram contestar-me ou mesmo apedrejar-me, explico: não há nada de errado (com o perdão da repetição) nisso! Não devem deixar de ouvir nem fazer rock! Mas não devem ficar apenas nisso, pois a revolta, a rebeldia, o questionar é o estágio inicial. É, digamos, o despertar!
Se formos analisar qualquer roqueiro que se tornou “grande”, veremos que houve uma evolução ‘gradativa’ em sua obra... começou cantando trivialidades, na maioria simples até demais como brigas com a namorada, paixões mal resolvidas, passou a falar de problemas do cotidiano, foi ampliando, tocou em grandes temas e ai... deixou de fazer rock!
Foi assim com Renato Russo, com Raul Seixas, com Arnaldo Antunes e depois Nando Reis, com Cazuza, Frejat... isso para ficarmos apenas nos ‘grandes’ do chamado “rock brazuca”...
Agora em Agosto faz 20 anos que o “maluco beleza” nos deixou... dada a sua importância capital para o rock, para a Bahia, para a música e para muitos em particular, não poderia deixar de fazer aqui também a minha homenagem...
Como muitos, cresci ouvindo Raul, mesmo sem saber de quem se tratava de fato, depois estudei-o mais a fundo e durante anos suas músicas marcaram fases da minha vida... seria enfadonho, no entanto, desfilar aqui um repertório de canções que poderiam figurar nessa trajetória visto que cada um deve ter também o seu repertório particular e suas histórias... falar da importância da obra de Raul ou fazer uma análise de seu trabalho é também desnecessário. Muito já foi escrito sobre isso, por gente melhor que eu, inclusive.
Que fazer então?
Nesses momentos é comum a típica frase: “se ele tivesse vivo...estaria dizendo ou fazendo tal coisa...”. Os que me conhecem sabem que não sustento essas opiniões. Acho que todos morreram no tempo certo. E com Raul não foi nem é diferente! As especulações são muitas e tentadoras: os mais radicais que apostam que Raul também já teria se vendido ou, para usar suas próprias palavras: se rendido ao monstro sist (leia-se sistema); os mais fanáticos bradarão: - Não! Raul continuaria esculhambando a tudo e a todos e compondo de forma original!
Mas como ele não está mais aqui, a dúvida persegue-nos, Como diz um personagem de Eça de Queiroz: “nos achamos como o homem que vê a uva na vinha, suspensa, sem secar nem amadurecer...”
Que fazer? Se é que esta resposta é possível, creio que quem melhor conseguiu incorporar o espírito das idéias de Raul e melhor nos deu essa atualização foi um outro baiano embora mais antigo, mas extremamente moderno, para deleite de uns e despeito de outros, Com vocês, Caetano Velloso em Rock’n’Raul, a qual reproduzo a letra abaixo. Confiram e deixem suas opiniões:^

Quando eu passei por aqui
A minha luta foi exibir
Uma vontade fela-da-puta
De ser americano
(E hoje olha os mano)
De ficar só no Arkansas
Esbórnia na Califórnia
Dias ruins em New Orleans
O grande mago em Chicago
Ter um rancho de éter no Texas
Uma plantation de maconha no Wyoming
Nada de axé, Dodô e Curuzu
A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul
Rock'n'me
Rock'n'you
Rock'n'roll
Rock'n'Raul
Hoje qualquer zé-mané
Qualquer caetano
Pode dizer
Que na Bahia
Meu Krig-Ha Bandolo
É puro ouro de tolo
(E o lobo bolo)
Mas minha alegria
Minha ironia
É bem maior do que essa porcaria
Ter um rancho de éter no Texas
Uma plantation de maconha no Wyoming
Nada de axé, Dodô e Curuzu
A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul
Rock'n'me
Rock'n'you
Rock'n'roll

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