
Otávio Mota, que como todo poeta, é especialista em frases de efeito, por vezes profere também sentenças que soam até como profecias. Certa vez ouvi dele: “Quando a produção começa errada, não tem jeito!”. E se houve uma coisa que a banda Os 4 elementos começou acertando, foi na produção.
Experiente, Ricardo Lemos é um dos poucos produtores que todo artista ou grupo em Valença gostaria de ter ao lado, pois sua produção, se não é impecável, ao menos se esforça para sê-la. Quem teve o privilégio de cair em suas mãos sabe do que estou falando. Pois bem, após uma intensa campanha coordenada por ele através de todos os mecanismos e meios de divulgação, eis que aconteceu finalmente, nesta terça feira o anunciado e esperado show.
Embora a casa não estivesse cheia, registre-se que para uma terça-feira, numa cidade como Valença, onde infelizmente muitas vezes o público paga caro para ver atrações duvidosas e não costuma valorizar a “prata da casa”, prevalecendo o adágio de que “santo de casa não faz milagres”, parece-nos que a escolha foi acertada e Ogum forçou a mão para não deixar seus filhos desamparados na sua terça... não foi à toa que David Terra rendeu-lhe oferendas ao cantar no meio do show “Ó paim de Ogum”...
Com a licença poética de Celeste Martinez, Água, terra, fogo e ar... os quatro elementos conspiraram a favor... e a harmonia provocada por um som de boa qualidade, com um grupo bem entrosado aconteceu, realizando um show muito melhor do que o que vinha sendo mostrado nos ensaios e deixando o público presente satisfeito com o resultado.
Ponto alto, próximo do êxtase, quando começaram a soar os acordes da “zambiapunga elétrica” provocando uma espécie de transe coletivo não só no grupo, como também na platéia que vibrava e marcava com palmas e gritos os sons das enxadas... o que, ao nosso ver, deveria ser mais trabalhado pelo grupo visto que se trata de uma manifestação genuína de nossa região que encanta a todos.
É claro que, alguns pontos precisam ser melhorados talvez com uma boa direção artística dando uma visão mais limpa e homogênea do trabalho para que determinadas músicas, falas e imagens não fiquem meio deslocadas, repetitivas e desconexas, prejudicando assim a harmonia e o trabalho como um todo. Houve também alguns lapsos que podem também ser prejudiciais ao grupo e precisam ser revistos, mas preferimos atribuí-los ao costumeiro “nervosismo de estréia”.
No mais, valeu a intenção, pois, como foi dito ao final do show: “A semente foi plantada...” No entanto, preferimos encerrar com uma espécie de conselho dado por Cazuza em uma de suas músicas: - “Vai à luta, por que os fãs de hoje são os linchadores de amanhã!”