terça-feira, 22 de novembro de 2011

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA - ê dendê: olhares sobre a costa do dendê


Será que nos ilhamos, quando olhamos? É a pergunta que me faço, com a câmera entre as mãos e os olhos ansiosos por decifrar e grafar luzes e mundos. Acabo de subir neste barco imaginado que navega a Costa do Dendê há quatro anos, pesquisando e mapeando artesãos da região.

Daqui do barco, eu vejo: olho não é ilha. Primeiro, porque vejo com todo o corpo. Vejo com os ouvidos que escutam novos sotaques e contam velhas histórias, com mãos que tocam outra areia e plantas inéditas, vejo com os pés e os poros, com a palma e o paladar. Como a câmera é uma extensão do olho, fotografo com todo o corpo, que talvez seja mais simples e sincero que o romantismo de fotografar "com toda a alma".

Mas não é apenas com meu corpo que fotografo. Fotografo com muitos corpos, porque o olhar do outro sensibiliza e modifica meu olhar. As fotos tomadas durante os dias de trabalho são projetadas na rua e vistas pela comunidade ao final da visita a uma determinada localidade. Assim, quem é fotografado, de alguma maneira, também fotografa; a câmera deixa de ser ostentada para ser ofertada. O artesão ensina o artista a refazer seu olhar com a naturalidade de um pai que ensina um filho a tecer.

Por isso, falamos em olhares, no plural. Os olhares desatam as ilhas, e nos reconhecemos no espelho d'água. A rede de "Olhares sobre a Costa do Dendê", como rede de pesca lançada ao mistério de rio ou mar, para desmistificá-los, se faz cada vez mais ampla e imbricada.

Marília Palmeira
(Fotógrafa)

Nenhum comentário: