segunda-feira, 20 de julho de 2009

MÍDIA GRANDE OU MÍDIA GORDA?

MÍDIA GRANDE OU MÍDIA GORDA

Adriano Pereira*

Estava tranquilamente a ler minha Caros Amigos, única revista que não dispenso ler todo mês, quando de repente deparei-me com uma expressão casual do Colunista Hamilton Octavio de Souza “a mídia gorda propôs que as sessões do STF fossem gravadas e editadas...” (Caros Amigos, Junho 2009. p19)
Não reproduzirei o resto, embora seja um tema pertinente o “bate-boca entre os ministros Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, por que o que interessa aqui é analisar o uso e adequação da expressão “mídia gorda”.
Nós que fazemos imprensa, mesmo que de forma “amadora”, constantemente vemos declarações do tipo: “os grandes meios de comunicação”, “a grande mídia”, “os maiores meios de comunicação”... e por aí vai...
Pode até parecer simples querela semântica... mas não é! Ao reproduzir tal discurso, e nós mesmo o fazemos, mesmo que involuntariamente, conscientemente ou não, acabamos por reafirmar uma segregação violenta e elitista que coloca os pequenos, sem recursos, “magros” e alternativos meios de comunicação como de pouca qualidade exatamente por que não têm recurso, grande tiragem ou até mesmo qualidade gráfica.
Como se esta mídia que é produzida pelo “baixo clero” e crescerá ainda mais agora com a revogação da Lei de Imprensa e abolição da necessidade do diploma de jornalista, fosse algo de pouca qualidade, mal feita, que nem deveria existir.
GRANDE é essa mídia, que sem recursos, luta contra titãs, numa verdadeira disputa de “Davi e Golias” para sobreviver e produzir um jornalismo de qualidade, levar informações e continuar no homérico esforço de informar a todos que muitas vezes não têm nem recursos para comprá-las.
GRANDES são esses repórteres, editores e produtores de tais mídias. Estes sim é que merecem nosso respeito e credibilidade. Daqui pra frente “grande mídia” somos nós. Os demais “jornalões”, devem ser tratados como “mídia gorda” pelas altas contas e grandes verbas que recebem, ou melhor aquinhoada.
À César o que é de César. Valeu Hamilton pela reflexão. E vida longa à Caros Amigos e toda a “grande mídia”


* Escreve sempre que pode em “pequenos” jornais locais como Valença Agora, Costa do Dendê, Rolando na Orla e foi um dos idealizadores da Rádio Comunitária Rio Una FM

2 comentários:

Unknown disse...

Valeu, você, Adriano, pela reflexão. Em se tratando de jornalismo, pode-se vender a alma a Deus e/ou ao Diabo tanto sendo colunista do Jornal Nacional quanto editor-chefe de um pasquim do interior. E você sempre soube ocupar os espaços (criá-los, nos tempos dos jornais estudantis; cavá-los, hoje) pra preenchê-los com um discurso muito original e legítimo. Espero que a sua voz reverbere ainda mais na caixa acústica de Valença, tão cheia de ecos, silêncios e ruídos. Um abraço deste amigo que vai esperar terminar a faculdade pra tomar jornalismo de canudinho...

Unknown disse...

Quem te conhece, mesmo que pouco, pode identificar em seus textos o grande distanciamento que existe entre o Adriano da época do Gentil Paraíso e este Adriano de hoje. Impressionei-me com a eloqüência e desenvoltura que mostrou ao tecer sua descrição dos poemas de Amália. Fiquei com vontade de ler.
Parabéns pelo comentário sobre a mídia gorda, ou melhor da “mídia obesa”. Se bem me utilizo da exacerbação o termo seria esse.