segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CONSIDERAÇÕES SOBRE AMÊSA E A CULTURA EM VALENÇA




Peço desculpas a minha amiga Suelma por não fazer uma análise mais acurada do seu espetáculo “Amêsa”, pois embora este mereça, não o farei.
Não farei exatamente para provocar essa falsa burguesia valenciana e sua pseudo intelectualidade que não compareceu no último final de semana para prestigiar um espetáculo tão belo. São os mesmos que não se incomodam em desembolsar ingressos muito mais caros para assistir as bofetadas, esculachados e piabas da vida.
Não se incomodam por que fazem questão de exibir-se e comentarem que assistiram espetáculos que aparecem nos comerciais da mídia gorda... mas quando um bom espetáculo de fato vem à nossa cidade, ou quando nós artistas locais, fazemos esforços titânicos para colocar algo em cartaz, seja ele na área da música, do teatro, das artes plásticas ou qualquer outra linguagem, esta pseudo-burguesia torce o nariz, não comparece e prefere ficar em casa assistindo o decadente fantástico...
E com uma arrogante hipocrisia ainda enche o peito e brada que Valença não tem jeito, que não tem alternativas e outras baboseiras do gênero...
Os que lá estiveram tiveram o privilégio de ver Heloisa, atriz angolana numa impecável performance, com uma trilha envolvente, cadenciada por movimentos sincrônicos... carregado de imagens metafóricas... a vida... o mundo acabando... tal como Iansã, em seu vestido vermelho, ela girava e nos levava numa viagem que inevitavelmente terminava com a morte... neste momento ela parava e sua expressão lembrava-nos uma outra divindade: Omolu – o ancestral da doença... Em diálogos entrecortados e repetitivos como são as reminiscências Heloísa expunha as dores, os medos existenciais de cada um de nós... era uma criança pequeninha... quando ele apareceu a prometer, a prometer... o que é que eu podia fazer? Verde também eram os olhos do carrasco... e uma pedra esmagou o louva-deus...
Como disse, não analisarei em detalhes o espetáculo, embora não resisti a reproduzir aqui frases tão impactantes e tão fortes que ecoavam e deixaram em transe os espectadores. Não poderia deixar de registrar também o espetáculo final ocorrido na estréia, quando Suelma, imaginariamente, amparando-se no palco do Centro de Cultura declarou emocionada que realizar esta turnê em Valença era a sua forma de retribuir a nós e a este espaço, sua gratidão por aqui ter ensaiado os primeiros vôos...
Um outro aspecto que foi bastante comentado por outros críticos, em outras praças foi “a bela luz de Everton Machado”... e aqui não poderia de registrar com indignação uma notícia de bastidores: por pouco o espetáculo não foi cancelado devido a ausência de luzes adequadas!
O fato só não ocorreu devido a esforços pessoais da produção e do próprio Centro de Cultura que tiveram que alugar um outro equipamento de iluminação.
Como não assisti a montagem em outros locais, não posso afirmar que isso tenha prejudicado o espetáculo. Mas é simplesmente inadmissível que isto aconteça, vez que, absurdamente, novos equipamentos de iluminação cênica, bem como de som, encontram-se a meses empilhados em uma sala do Centro de Cultura, simplesmente aguardando o envio de um técnico de Salvador para instala-los! Até quando? Não queremos acreditar que, tal como nos outros governos, de forma mesquinha, estes só sejam instalados às vésperas das eleições...
Talvez essa tenha sido, embora não por culpa do grupo, a única falha do espetáculo, aliada ao fatigante calor, vez que o sistema de ar-condicionado também encontra-se quebrado... neste sentido, paradoxalmente, agradecemos aos que não compareceram vez que a ausência nos proporcionou um espetáculo agradável já que seria praticamente insuportável numa casa lotada e barulhenta...
Vem aí a Conferência Regional de Cultura, onde o Centro estará lotado de artistas, delegações municipais, autoridades da região, do Secretário Estadual de Cultura e toda a sua equipe... será por demais massacrante ouvir a todos e participar dos longos debates que se estenderão por dois dias sob um calor infernal...
A cultura precisa de luz, ser ouvida e respirar, não transpirar...

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