sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O MINISTÉRIO DA INTELIGÊNCIA ADVERTE:


PROIBIR O USO DE CIGARRO NÃO PASSA DE TÁTICA ELEITOREIRA

Pode parecer exagero. Mas não é. Lembro-me exatamente quando José Serra começou a sua campanha anti-tabagista: quando era Ministro da Saúde, alguns meios de comunicação, em especial a revista Trip, promoveram uma intensa campanha pela proibição das propagandas de cigarro. Serra, que não é bobo, resolveu comprar a briga... como saldo, ganhava a simpatia de um meio de comunicação que tinha uma grande inserção numa parcela da juventude, prováveis eleitores, e ainda pousava de bom moço com um eleitorado mais conservador.
Agora em São Paulo, nova campanha... e o mais grave disso tudo é que a medida por ser tão “nobre” tem deixado mudo até mesmo os fumantes, vez que qualquer um que levante a voz é logo taxado de irresponsável ou até mesmo acusado de assassino, vez que quem ousaria defender “uma droga que mata tanta gente e provoca o sofrimento não só dos usuários, mas de quem está à sua volta”? Em nome de um discurso politicamente correto abre-se mão de direitos e assiste-se bestificado a propagação de uma onda conservadora, de princípios segregacionistas, abrindo caminhos para um fundamentalismo latente de desrespeito às minorias e dos valores democráticos tão caros à nossa sociedade e conquistados a duras penas.
Parta-se do óbvio: o cigarro é uma substância legal e seu usuário não pode ser submetido a constrangimento ou tratamento discriminatório ou humilhações públicas como a nova lei impõe. Nenhuma regra pode exterminar o direito ao convívio social a qualquer que seja o grupo, a origem ou a preferência.
Como escreveu um outro colunista: Não se vê mais fumantes que se atrevam a acender cigarros em hospitais, filas de banco, supermercados ou elevadores. Nesse ponto, houve uma ação civilizatória, justa e irreversível, que retirou os fumantes dos devidos lugares, vez que estes são ambientes públicos em que não se escolhe estar.
Mas o mesmo raciocínio não se aplica a um bar, restaurante ou casa noturna. Existem aqueles que proibiram o uso em suas dependências e se deram bem. Mas por que um empresário, um clube, um bar ou seja lá o que for não poderá tolerar a presença de fumantes em espaços reservado a estes, uma vez que tanto este como os seus freqüentadores são também pagadores de impostos? Cada cidadão tem o direito de escolher entre milhares de opções o ambiente que deseja freqüentar e nestes casos entra num ambiente de fumantes quem quer. Um não fumante simplesmente não é obrigado a entrar numa boate ou bar que o fumo seja aceito. Basta procurar outro.
Contra este raciocínio, entra-se de novo com a velha cantilena de que trata-se de um problema de saúde publica, de emissão de gases poluentes, cancerígenos, etc e tal... No entanto o que não se fala é que este discurso soa cínico, visto que não se vê a mesma proibição contra outros produtos cancerígenos ou poluentes como as empresas de eternit, a fumaça dos veículos, ou até mesmo das indústrias...
É mais fácil atacar e acuar um pequeno grupo de pessoas que insistem em dar suas “baforadas suicidas” com proibições, confinamentos... ao invés de continuar uma campanha educativa que surtiria muito mais efeitos. E assim, voltamos ao tempo da caça às bruxas... Agora são os fumantes. Quem serão os próximos? Os obesos? Os “desviados sexualmente”? Os velhos?
É impossível concluir este artigo e não lembrar-se do texto e Eduardo Alves da Costa, intitulado No caminho com Maiakóvski: Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.

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