sexta-feira, 2 de setembro de 2011

VALENÇA: UM PROBLEMA DE SEGURANÇA OU EDUCAÇÃO?


“deixa, deixa eu dizer o que penso dessa vida
eu preciso demais desabafar”
(Marcelo D2)

Tinha prometido pra mim mesmo que ia procurar falar/escrever menos esse ano, por que estou preferindo agir. Pouco faz, quem muito fala – diz a sabedoria popular. Mas tem horas que não dá. Aí a gente tem que parar e refletir um pouquinho. Berrar pra acordar os que parecem estar dormindo. Jogar pedras, não pra quebrar vidraças, mas para dizer: - Ei, acorda!
Em meio a guerra nada particular que vivemos, entre balas perdidas, assaltos nas esquinas e o clima de terror em cada parte, fica difícil caminhar na cidade, mas a gente vai tentando, vai levando, vai vivendo...
Sexta-feira, 10 da manhã, to eu saindo do Palácio de Mármores, sede da Prefeitura Municipal, onde estávamos discutindo os preparativos para a Conferência Territorial de Juventude. Aí, na descida, ouço um carro buzinar, olho pra trás e é um dos sobrinhos da política valenciana, desses que morrem de saudade e amor por Valença, mas não o suficiente para aqui residir. Por uma questão de educação, não me peçam para revelar o nome do sujeito.
O sujeito é meu amigo e, sem querer bancar o politicamente correto em moda, gosto dele, há anos somos amigos e nos respeitamos. O sobrinho me diz que não vem à Valença fazer política, até por que já tem muitos parentes envolvidos. Mas inevitavelmente me pergunta sobre as próximas eleições. Aí eu declarei na lata: - meu candidato é Martiniano, para acabar com o racismo nessa cidade!
Claro que até o próprio Martiniano vai achar um exagero. Afinal ainda vivemos um racismo velado e ninguém vai se admitir racista, imagina uma cidade... E, mais a mais, ele está tão entranhado que vai ser preciso superá-lo inclusive entre companheiros, para daí então construir-se uma campanha com raça e cor da maioria da população valenciana, coisa que está muito longe de acontecer, embora não impossível.
Difícil, inclusive, por que o racismo é primo-irmão do preconceito, onde desqualifica-se as posições divergentes, sob o argumento presunçoso e um certo ar de superioridade onde estes (os superiores) simplesmente não perderão tempo dando importância a idéias tão absurdas.
Aos que assumem o risco de realizar a auto-crítica é reservado o paredão. E, sabemos, o fogo-amigo mata mais do que o inimigo. Como cantou Fred 04 “é bom rezar todo dia para não virar alvo de uma missão humanitária aliada”.
Segunda-feira, chego em casa tentando almoçar e a sirene invade o silêncio anunciando pelo rádio os números de mais uma mega-operação no bairro da Bolívia: 04 presos com armas de fogo, 3 menores e um maior. Aí resolvo fazer uma pesquisa nos meios de comunicação de nossa cidade que serve apenas para reafirmar o que ouvi nos dois últimos eventos públicos que participei (a Conferência Municipal de Juventude e o APLB debate o bairro da Bolívia): Morrem ou são violentados cotidianamente em Valença jovens negro/as na sua maioria do bairro da Bolívia.
Não precisa ser nenhum especialista. Basta cruzar os dados e os números se tornam muito claros, ou melhor, com o perdão do trocadilho, escuros. Aí faz todo o sentido o racismo ao qual eu me referia acima e que as velhas oligarquias brancas, preocupadas apenas com sua segurança e acumulação agora ameaçam ir ás ruas para cobrar do Governador Wagner mais segurança, que significa mais policiais e todo o aparato repressivo para prender pretos e pobres que sem emprego e perspectivas abusam das drogas.
Mais segurança! – gritam! Mas nenhuma palavra sobre as suspeitas de corrupção que já começam a pairar sobre as obras do PAC na Bolívia. Nenhuma palavra em defesa do campus da UFRB em Valença, no bairro da Bolívia, como defendeu a presidente da APLB. Nenhuma palavra sobre o mutirão por mais emprego que emprega mais papéis e sobrinhos e se orgulha de ter gerado 82 empregos formais em abril quando o nosso desempregado passa da cifra das centenas. Nenhuma palavra sobre a situação de abandono em que se encontra a Escola Eraldo Tinoco. Nenhuma palavra sobre o fechamento da Escola Clemenceau Teixeira – escolas que eram do Estado, mas passaram a ser administradas pelo município.
Agora, que o governador vem à Valença, os mesmos insuflam os valencianos para irem às ruas clamar por mais segurança. Não estranhará também que recorram também á velha cantilena de reativação do aeroporto. Instrumento importante, mas que até hoje não funciona por que foi feito de forma mal planejada e aceito pelas oligarquias como um grande presente em gestões passadas.
Falta vontade política! – vão dizer, por que não aceitam que a Bahia de Todos Nós governe para quem mais precisa inaugurando uma escola de ensino médio no Orobó.
É a mesma direita perversa que defende “direitos humanos para humanos direitos” por que não conseguem conceber a diferença... São anos acumulados de um racismo e, por que não dizer, machismo, já que como exemplificava o professor Joélio a toda uma geração a carga que sofre no Brasil uma preta velha.
Dói, ainda mais, constatar que nas “terras do Una”, parodiando a Morte e Vida Severina, nossas pretas morrem “de velhice antes dos trinta/ de tiro antes dos vinte/ de fome um pouco por dia”.
Mas, como cantou outro poeta “são quase todos pretos/ ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres/ e pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos” (...)
Mais segurança! – gritarão, por que dentro dos seus carros, fechados com ar condicionado, ou entre muros, não conseguem enxergar nem caminhar por uma cidade arrasada por um gestor irresponsável que não vê além dos limites do seu nariz de Pinóquio.
Felizmente, a mentira tem pernas curtas. Com educação, escreveremos uma nova página na história de uma cidade “nunca vencida”.
Ou como finaliza D2 “deixa pra lá, eu devo tá viajando/ enquanto eu falo besteira nego vai se matando...”


Valença, 2 de Setembro de 2011
Adriano Pereira

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