terça-feira, 22 de maio de 2012

LEGALIZA DILMA VEZ!

Caralho, buceta/ quem não pula é careta! - Não, não estou na Bahia. Estou na Avenida Paulista e o carnaval está longe. Nosso voo para Angola estava marcado para hoje, 19, mas uma certa Maria colocou o dedo e a providência nos proporcionou outra viagem. Descemos no vão do MASP, concentração para a Marcha Mundial da Maconha, desta vez liberada e garantida pelo STF. Das mais diferentes partes e tipos, os malucos vão se encontrando. É uma festa democrática. Com direito a palavra de ordem e músicas: Eu sou maconheiro, com muito orgulho, com muito amor... A polícia também está presente, para garantir a segurança dos manifestantes e, por que não, receber provocações de uma juventude ousada “Ei, polícia, maconha é uma delícia!” Cartazes, faixas, camisetas, panfletos sendo distribuídos pela organização. Sim, existe uma organização em rede, formada por um coletivo de entidades que dão sustentação à realização da marcha nas mais diversas cidades. A próxima será em Diadema e o convite é feito para fortalece-la já que, mesmo com a garantia da Justiça, o poder local quer se colocar acima da lei e impedir sua realização. “E se você pensa que todo mundo maconheiro não presta/que é safado, tem que tomar tiro na testa/pense bem... Mais um exemplo de organização e respeito. Todos sentam no chão para ouvir um papo, não por acaso, chamado de “fazendo a cabeça”. Como convidado o professor Henrique Carneiro, historiador da USP. E quem disse que maconheiro não tem memória, nem a maconha história? Numa aula pública o professor desfaz mitos e preconceitos. Conta-nos a milenar e múltipla utilização da cannabis, seu uso medicinal, seu papel, sua riqueza. “a maconha era utilizada em pelo menos 3 viagens: nas cordas e velames, no papel utilizado para a escrita e nas viagens psicodélicas em seu uso recreativo. Assim, com tanta utilidade, o capital a proibiu”. Foi mais além: “o colesterol, o álcool, a gordura saturada tem causado mais danos à saúde e mortes do que a maconha, no entanto ninguém criminaliza nem chama os vendedores e produtores destes de traficantes nem assassinos. Por que tanta violência com uma planta?” “Ah, meu bom juiz, meu bom juiz...” – o samba malandro pede passagem para saudar José Henrique Torres, presidente da Associação de Juízes pela Democracia, que começa com uma afirmação incendiária “o crime não existe! Explico: em ocasiões dadas, por razões politicas ou econômicas, a classe dominante decide criminalizar determinadas práticas ou condutas. Isso muda com o tempo e a correlação de forças. O fato é que a guerra contra as drogas fracassou. O combate tem que ser travado agora não por uma minoria, mas por qualquer pessoa que defenda a democracia e os direitos humanos. Essa é uma luta de todos”. Numa analogia mais que adequada a Castro Alves, poeta da liberdade.... Marchem! Então a avenida foi tomada por uma mancha verde. Não, não era a torcida do palmeiras, mas corintianos, paulistas, bêbados e baianos se misturando e se inebriando seguindo uma tora branca que visivelmente soltava uma fumaça esverdeada. Às 16:20 uma queima de fogos anunciou a partida da marcha. O prenúncio de uma nova era começou. A alegria e emoção eram as palavras de ordem. Os tempos definitivamente são outros. É nessa hora que encontro um velho amigo que num abraço, entre lágrimas, gritos e pulos tenta explicar tamanha euforia: “Conseguimos! São 3 anos de luta, debaixo de tiros, cassetetes, borrachadas e gás lacrimogêneo. Ano passado éramos 500. Esse ano tem mais de 5000...” – claro que a policia subestimou em um número bem menor. Cerca de 2000 segundo dados oficiais. Mas de qualquer forma, é algo que não dá para esconder, reprimir ou simplificar. E não é apenas um bando de jovens que querem apenas o seu direito de fumar maconha (como se isso não já fosse algo importante). A marcha é, sobretudo pela liberdade, pela paz, pelo respeito. O mesmo respeito que vi de senhoras nas portas que recebiam flores dos que marchavam, ou de lençóis, acenos e aplausos que eram vistos e ouvidos pelos marchantes de cima dos apartamentos. Como gritavam os manifestantes e a grande bandeira verde que abria a passagem dos manifestantes: Dilma Roussef, legaliza o back! Legaliza dilma vez!

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