terça-feira, 4 de agosto de 2009

QUATRO ELEMENTOS: POESIA NÃO É PRA TODOS!




Convenhamos. Fazer arte em Valença é difícil. Isso é fato. Mas não fato consumado e impossível de ser mudado como cinicamente pregam os que nada fazem e contribuem assim para o marasmo cultural.
Fazer crítica de arte neste cenário é ainda mais desolador, numa cidade onde pouquíssimos são os que lêem e raros são os espaços para externar essas críticas. É ainda perigoso, visto que os criticados, na maioria das vezes não compreendem que as pedras atiradas, são na verdade para acordar os que estão na redoma e, não quebrar e destruir o que está sendo construído.
De quebra, as críticas geram muito mais desentendimentos e desafetos. Mas não posso me furtar de externar minhas opiniões sobre o que vem sendo anunciado como “a nova promessa da música valenciana”.
Trata-se de como foi anunciado no jornal Valença Agora (edição de 23 a 29/07), da banda “Os quatro elementos”, que na verdade são pelo menos cinco (David Willyan, Marcelo Natureza, Ricardo Negrão, Fred Crispin e Alexandre Borges), “prometendo música e poesia na Bahia”.
Estive recentemente em um dos “ensaios abertos” do grupo, no que eles chamavam de “uma prévia do show” que pretendem fazer no Centro de Cultura de Valença no próximo dia 15 de setembro. A verdade é que falta objetividade e consistência ao trabalho.
Após um instrumental, a banda inicia apologeticamente com um chupado e desconectado trecho da música de Gabriel Pensador: “apaga a fumaça do revólver da pistola, bota a fumaça do cachimbo pra cachola. Acende, puxa, prende, passa...”
Não se trata de ser contra a utilização de músicas de outros autores; pelo contrário, estas são necessárias até para tornar o repertório mais audível à ouvidos pouco achegados às composições próprias do grupo. Mas a nosso ver, a abertura do show deveria ser com uma música no mínimo relacionada à proposta e que neste caso existe que é a chamada “música de trabalho” intitulada homonimamente de “os quatro elementos”...
Não se sabe por que, esta é a segunda música tocada, quando sabemos desde Raul Seixas, que a música de trabalho deve ser tocada no início e final de cada apresentação...
Aliás, a música “os quatro elementos”, embora possa ter sido feita com a melhor das intenções, carrega em seus versos uma visão extremamente segregacionista, equivocada e apocalíptica! Basta observar seu primeiro verso: “a terra não é pra todos...”
Neste ponto, os quatro elementos, que se propõe a misturar “música, poesia e arte cênica”, poderiam aproveitar a temática para inserir poesia também homônima da poetisa local Celeste Martinez, valorizando assim a prata da casa. Mas “nossos” elementos, entenderam mal o recado de grupos como o Cordel do Fogo Encantado e preferem copiá-los de forma fácil e distorcida recitando o conhecido “Ai se Cesse”... É aí que, para usar o lugar comum, a “emenda sai pior do que o soneto”, visto que os versos estão trocados, adulterados, provocando assim um desserviço à cultura popular, reforçando a idéia de que tudo que é popular é improvisado e mal feito.
Falta ainda qualidade técnica ao trabalho: as vozes soam esganiçadas, quase não se ouve o que está sendo cantado... e, mais importante: falta, o que convencionou-se chamar de presença de palco e integração com o público, visto que os músicos tocam na maioria de costas, como se estivessem tocando para si próprios...
Mas “para que não pense que há de ser tudo daninho...”, como dizia João Cabral, os quatro elementos, têm alguma originalidade, se é que assim se pode chamar, visto que não é nada novo, depois que bandas como Chico Science e Nação Zumbi eletrificaram o som do maracatu e fizeram um resgate da cena cultural de Recife. Pois bem. Seguindo a mesma lógica, os “quatro elementos” fazem um esforço (sic) nesse sentido ao lançarem o que eles chamam de “zambiapunga elétrica”... Ponto! Mas não tão alto assim, já que até o nome, para os que conhecem a cultura da nossa região, foi surrupiado do “candomblé elétrico” – manifestação criada por um artista de Ituberá (Fawaz Abdel é o seu nome) e que se tornou conhecida ao apresentar-se por anos na famosa “Feira dos Municípios”, promovida pela então Secretaria de Cultura e Turismo do Governo da Bahia em anos remotos.
Sabemos, como afirmamos desde o início o quanto é difícil fazer arte em Valença. Sabemos do rosário de dificuldades: falta recursos, falta espaço adequado, falta incentivos, equipamentos... sabemos que grandes bandas como Legião Urbana, só para citar uma das maiores, no início também tinha dificuldades. Quem assistiu gravações dos primeiros shows, jamais apostaria que iam se tornar o grande fenômeno que vieram a ser. Mas neste caso, Renato Russo ao menos, desde aquela época, já esbanjava duas qualidades essenciais: carisma e poesia...

Adriano Pereira

7 comentários:

Unknown disse...

[b][i[Pois é meu querido Adriano, agradeço as críticas efetuadas por vossa senhoria, mas, queira dizer que aqui em Valença realmente é difícil fazer arte e música, principalmente por que existem pessoas como você que preferem criticar fortemente e precipitadamente um trabalho sério e honesto, do que apoiar e incentivar um movimento positivo...Estávamos ensaiando com um equipamento de baixa qualidade, sem nenhuma estrutura, longe de ser uma estrutura de show, tenha um pouco de consciência...Queria dizer que em momento algum nós (4 elementos) fazemos qualquer tipo de apologia as drogas...só uma pessoa ideologicamente e culturalmente transtornada pensaria dessa forma, que "acho" não seja o seu caso ou é?. E as críticas são muito bem vindas, porém desde que não tenham elo e não sejam oriundas de problemas e relações inter-pessoais com certas pessoas como toda Valença sabe... Agora só me resta te dizer: obrigado!!! isso nos motiva ainda mais pra continuarmos nosso trabalho com dedicação e humildade levando uma mensagem não segregacionista como você afirma,mas uma mensagem de amor ao próximo, união e respeito para com a natureza...

PS: Pelo amor de Deus até a Zambiapunga você quer criticar?? nosso intuito é de somente valorizar essa cultura tão bela da nossa região. Quando fizemos esta música foi no intuito de homenagear a zambiapunga que também é alicerçada pelo candomblé, e de misturar as influências de cada um e não usar tal cultura, tal musicalidade para se promover!!

Unknown disse...

Arte é tudo aquilo que se dá valor!
Acho que a banda Os 4 elementos não vai perder seu valor por um comentário de quem n tem o que fazer!acho que a banda tem tudo pra creçer e tem meu apoio!
sucesso!

Unknown disse...

nao é so em valença que fazer arte é algo complicado, e se torna mais complicado ainda quando "arteologos" que nao minha opiniao nao passam de copias de resumos da vida de autores e obras publicamente tentam desmerecer a arte. os "4 elementos" (sao 5? i dai? os 3 mosqueteiros eram 4 e nem por isso alexandre dumas foi criticado por um "erro de matematica") .
desde quando raul sexias ou qualquer outro musico abre um show com a principal musica, nesse caso a "musica de trabalho"?
"nome surrupiado"? seria esse terno apropriado para fazer comentario em um bloggzinho? se for assim sera que seria d ebom tom falarmos que vc "surrupiou" a ideia da ocupaçao cultural de algum outro evento e apenas mudou o nome? claro que nao, claro que nao... (sic)
"presença de palco" DESDE QUANDO RENATO TINHA PRESENÇA DE PALCO????? o cara ficava parado, fazendo umas dancinhas escrotas e muito das musicas dele tambem foi "surrupiado" de outros artistas, ou no minimo tirou uma ideia de algo ja pre-existente.
espero que minha critica nao seja levado para o lado pessoal.

Unknown disse...

Oi moço,
nunca havia prestado muita atenção nas coisas que você escreve, que devo explicar, que é por pura falta de tempo, mas quando recebi no meu e-mail sua critica sobre a banda quatro elementos, que como você sabe, são meus amigos, fiquei curiosa e entrei no su blog para ler todo texto. Quero lhe dizer gostei da qualidade da sua crítica e também da clareza do texto, sem contar com a riquesa de informação de cultura regional citada nele. Li o texto sobre Amália e também fiquei instigada a ler seu livro.
Um abraço querido!

Unknown disse...

Caro Adriano

Antes de tentar sequer esboçar o que é uma boa crítica, que tal começar pelo papel do crítico e sua tarefa?

Não é anormal se dizer que para desconstruir algo é necessário que antes saibamos como construir. Portanto, deveríamos nos limitar a falar sobre aquilo que conseguimos fazer, de preferência melhor. Sendo assim me pergunto... Vc Adriano consegue ser melhor que o grupo citado? Creio que não pois sei que vc nao conhece nada sobre estrutura sonora, alem de que as ocupações culturais são um verdadeiro desastre neste termo pois a estrutura de som é horrivel, sendo disponibilizado para os artistas apenas uma caixa amplificada de qualidade inferior a qualquer das caixas do grupo 4 elementos...Sem contar uma serie de outros desacertos que nao me cabe citar... Alem do mais vc faz um critica de um ensaio do grupo... Acotecem ensaios para a ocupação?? A mesma é de fato organizada??...mais... Voltando ao assunto critica...
Essa visão tem um problema que salta aos olhos numa primeira avaliação: o que é ser melhor?
Não precisamos nem entrar nos méritos de (in)definição sobre o que é bom e o que é ruim nas manifestações culturais.Basta a dúvida que fica ao pensarmos quem elegerá os críticos. Eles serão os melhores, certo? Quem, então, os criticará? Serão eles uma cúpula dos poderosos inatacáveis e infalíveis? Existiria um papa da crítica?
Ainda com essa linha de raciocínio, é difícil acreditar, portanto, que um crítico seja capaz de apontar o que é bom e o que não é. Bom pra quem? Em que sentido? Pra quê? Parece-me muito mais confortável aceitar que o crítico, ser letrado que se supõe ser, deve mostrar ao leitor do seu trabalho o que ele está analisando e onde a obra se insere em termos de rede e background. Por rede entendemos a teia de conexões que relaciona os elementos do momento presente; e, por background, a história e as transformações passadas na rede. Quem é o autor? O que ele está oferecendo aos leitores? O que ele já fez antes, quem já fez o que ele está fazendo?
É absurdo esperar de um crítico a explicação de uma obra. Esta expectativa é tão ínscia quanto a tentativa de entender e recriar os pensamentos e intenções do autor da obra analisada. No caso específico da literatura, como saber o que passou realmente pela mente do escritor na hora de surgir o texto, quem vai conseguir traduzir os complicados caminhos que as letras fazem pelo cérebro e pelo coração? Talvez devamos voltar à idéia de infabilidade crítica...
O processo crítico é apenas uma leitura da realidade. Teoricamente reforçada de uma bagagem cultural superior à média, mas ainda assim uma leitura. Cabe ao crítico a humildade de aceitar que não possui o dom da Palavra Verdadeira. Quando se trata de arte e cultura, aliás, é perda de tempo a procura pela objetividade por trás do subjetivo.

Adriano disse...

Comentário recebido por e mail, enviado por Ana Paula Batista:
Ha pouco tempo fui informada que esse texto no blog de Adriano tinha provocado uma reação em cadeia, contudo confesso que não imaginava que tinha sido tamanha reação.
Não vi ainda o trabalho dos quatro elementos e por isso não poderei emitir qualquer opinião sobre o mesmo.
Penso que a boa critica, não no sentido de ser a melhor ou infalivel, é aquela que possue elementos que possibilitem o sujeito criador pensar sobre, analisar sobre diferentes pontos de vista, sobre diferentes angulos e perspectivas aquilo que esta sendo feito, criado e re-criado a cada enaio, a cada instante.
E concordo que critica alguma encerra ou finda as possibilidades de qualquer obra feita.
Sendo assim não entendo pq de tamanha opinião contra a critica feita no blog ja que a mesma é a opiniao de alguem que viu a arte sobre um angulo que até agora ninguem observou.É mais uma possibilidade.Não necessariamente a única possibilidade,a mais certa, ou aquela inalteravel.
Seria muito mais lucrativo se os envolvidos se colocassem a disposição e se permitissem olhar sobre uma perspectiva diferente daquela que deu inicio a tudo. E lembro-lhes que olhar sobre uma perspectiva diferente não obrigatoriamente significa mudar a direção do que está sendo feito e sim ter mais subsidios para faze-lo melhor.

Unknown disse...

Desculpem a minha ingenuidade, mas quando me deparo com a expressão " os quatro elementos", me vem à lembrança os elementos Água, Terra, Fogo e Ar. Jamais imaginei interpretar tal expressão como sinônimo de "meliante". A não ser, lendo a crônica policial.
Mas o que eu quero perguntar é:
- Os quatro elementos não têm nada de positivo?
-Não dá, sequer, para dizer que eles são corajosos?