quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

MAKTUB – Primeiro sarau na MaCRo


Esqueça os mortos, eles já não vivem mais! – cantava David Willyan ao violão numa espécie de aquecimento/passagem de som dando apenas uma mostra do repertório que desfiaria na noite que estava se iniciando. Aliás, no improviso, uma banda surgiu para animar a noite formada além de David, por Isaias, Mateus Magyver, Fred Gazo e Gilberto marcando com um balde. Seu nome MaCRo-avélicos!
De repente, um coro de vozes femininas:

Quando um homem tem uma mangueira no quintal
Ele não é goiaba
Deixa ele lhe mostrar
Bom dia, boa tarde!
No seu pomar
"O que há de mal"
Poder brincar de amar
Sem pensar no amanhã
Sem nenhuma vergonha
Numa cara de pau
Aproveitar um samba
Numa tarde vazia
Ter um siricotico
Ter uma aventura...

Eram Gerusa, Maibe, Leidy e as demais que emprestaram suas vozes para demonstrar a belíssima composição de Vanessa da Mata. E se estamos no quintal, ele pode também ser um terreiro, propício para um baião puxado mais uma vez pela MaCRo-avélicos, dessa vez com Isaias nos vocais. Foi o suficiente para o primeiro poeta baixar no terreiro com uma trouxa de livros dos poetas valencianos, antes de declamar os seguintes versos emprestados de Antônio Vieira:

A nossa poesia é uma só
Eu não vejo razão pra separar
Todo o conhecimento que está cá
Foi trazido dentro de um só mocó
E ao chegar aqui abriram o nó
E foi como se ela saísse do ovo
A poesia recebeu sangue novo
Elementos deveras salutares
Os nomes dos poetas populares
Deveriam estar na boca do povo

No contexto de uma sala de aula
Não estarem esses nomes me dá pena
A escola devia ensinar
Pro aluno não me achar um bobo
Sem saber que os nomes que eu louvo
São vates de muitas qualidades
O aluno devia bater palma
Saber de cada um o nome todo
Se sentir satisfeito e orgulhoso
E falar deles para os de menor idade
Os nomes dos poetas populares.

Ao lado, uma flor branca se destacava. Saía do cabelo de Violeta Martinez. Num improviso, sob uma luz vermelha, um poema de Celeste Martinez foi declamado:

Vinte e quatro horas são suficientes para viver não mais que isto.
E cerro os olhos e o tempo muda sua cronologia.
Novamente abro as janelas, mais vinte e quatro horas de recomeço
E mais algumas horas para o sono.
E principio e acabo.
E nunca a morte.
Onde estará?
Em que bar deglute o aperitivo encorajador para a labuta pródiga do embarque de frios?
Sim, vinte e quatro horas são suficientes para ver a aurora,
O ocaso,
A chuva,
A brisa,
O sol,
O mar,
O rio.
Vomitar palavras sujas e corrigi-las.
Pedir desculpas,
Voltar a ser,
Terminar o script,
Bailar com a vida.
Vinte e quatro horas são necessárias para que o homem viva na urbe
E vá ao
Campo.
Vinte e quatro horas, para sentir-se,
Despir-se,
Olhar o espelho, porque dele não podemos fugir.
E são vinte e quatro horas correndo, acomodando os sentidos a tristes figuras.
Ouvindo reggae, axé music,
Jamais ouvindo Bach
Vinte e quatro horas para purificar os sentidos.
Beber da água.
Beber do riso e transformá-lo em lágrimas de chuva que caem ao
ritmo das
vinte e quatro baladas do sino.

Oh gira, deixa a gira girar... entre palmas e vozes um “Deus negro” foi invocado. Maria Cláudia se fez ouvida através da poesia “ocupação cultural”. Se nessa cidade todo mundo é de Oxum, ela mostrou toda a sua beleza como uma dama da noite e enviou bênçãos que desciam do alto da colina. Eram os versos de Otávio Mota:

Quando me largo nesse adro largo
Quando me lavo nessa água maga
Essa festa nua,
Se faz mais minha e sua.
A padroeira é nossa
Minha visão, promessas...
E tudo se enfeita,
Bandeirolas de papel
Bambuzais formando arcos
Nossas mãos, pernas e marcos
Vozes da aflição
Na procissão
Se acalmam, esperam a vez
E cantam o terço, a ladainha
E a fé se agiganta
Dos pés aos paralelos.

Lá vai a procissão!
Lá vão os penitentes
Rezando alto, baixo ou mudos
Uma vez por ano
por todos os pecados...

Isaias abriu uma bíblia e passou a ler trechos do evangelho de Lucas, justamente na passagem onde Jesus chegava ao templo e eram-lhe dadas as escrituras do profeta. Parecia uma contradição em termos, mas Adriano, que não tinha nada de cristo, recebeu o livro e continuou a leitura:
- O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano de graça do Senhor.
Devolvendo o livro, ainda gritou: - Hoje se cumpriu esta profecia!

Numa celebração, todos comeram, beberam e se abraçaram. De repente, a paz invadiu os corações, as cabeças se encheram de liberdade e foram ouvidos acordes de um violino tocado por Luiz Cláudio. Por fim o velho Gilberto encerrou a noite brindando a todos com os versos do poeta Ricardo Vidal:


Não quero o amor, mas o Amar.
Não quero o amor enquanto ente
Ontológico de ficções e teses.
Quero o amor como ação humana:
Frêmito de virgem e soluços de orgasmos,
O toque de pele e a palavra
Cruzando as nuvens para encontrar-se
Com a amada distante.
Não quero o amor como ser teológico
Distante da vida e da arte.
Quero o amor que surge do pincel
Massageando uma aquarela
Ou da lira vibrando sonetos eróticos.
O Amar que eu quero é dos dedos d’amada
Fazendo cafuné depois do prazer.
O Amar que eu quero é do verbo novamente
Se fazendo carne, num novo Ato da Criação…

Como se não bastasse, com a devida licença poética, um outro poema foi re-escrito e relido sob um solo de blues tocado por Mateus:


Ocupamos as nossas ruas
Com a glória dos sonetos,
Batuques e tambores.
Utilizamos a arma
Da cultura popular
Para ferir o peito daquele que
Não acredita que a massa tem sim,
A capacidade da transformação
singular da arte
que está escrita no DNA do brasileiro.

Derrubamos os muros
Que separam a prosa do verso,
O Rock do Pop,
Reggae ao Funk,
Do samba a Bossa Nova.

E comungamos a Santa Hóstia Cultural.

Onde o que conta é a minha,
A sua, a nossa expressão,
O nosso fazer cultural.

Um dia hei de ver as estátuas de mármore
Que reinam solitárias e inertes
Nos jardins da minha terra
Uma por uma, com suas cabeças
Espatifadas no chão.
Num ato de repúdio ao observar seu povo
Que por tanto tempo se fez de tolo
E hoje, deu seu grito de libertação.
A libertação cultural.

MAKTUB – está escrito um breve registro do último sarau realizado pel’OPECADO, na MaCRo, no último dia 26 de Novembro. De lá, saíram tod@s com o espírito/mente/coração/corpos renovados para 2012.
Que assim seja!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

HÁ VAGAS PARA RAPAZES DE FINO TRATO – ÚLTIMA APRESENTAÇÃO EM 2011


Após subir aos palcos do Teatro Dona Cano, Cine Teatro Vitória, Centro de Cultura de Valença e arrancar aplausos na Semana de Cultura em Gandu a peça “Há vagas para rapazes de fino trato” encerra sua temporada em 2011 apresentando-se no próximo sábado, 03 de dezembro às 20 horas, na MaCRo.

A peça se desenvolve a partir do encontro entre Paco e Tonho, dois rapazes sem qualquer afinidade aparente, que passam a dividir um mesmo quarto de pensão em Salvador. Tonho é o moço sonhador que deixará Valença para realizar seus sonhos na capital; Paco é o soteropolitano porra-louca, desencantado e perturbador. Num jogo de estranhamento versus sedução, dominação vs. cumplicidade, esperança vs. desengano, os personagens se envolvem numa trama tensa que ora os polariza, ora os aproxima.


Livremente inspirado em Dois Perdidos Numa Noite Suja, de Plínio Marcos, Há Vagas para Rapazes de Fino Trato resgata e dá novos contornos psicológicos à dupla criada pelo dramaturgo, vivida nesta montagem por Adriano Pereira (Teatro Nu) e Cadu Oliveira (Geração Coca-Cola), que também assina o texto. O espetáculo é dirigido por Juliano Britto.

Com mais esta produção OPECADO – Oficina Permanente de Criações Artísticas Deus Omni mostra mais uma vez sua versatilidade propondo um espetáculo contextualizado com a contemporaneidade uma vez que acontece no domingo em Valença a III Parada Gay, além de inaugurar um novo espaço de apresentações.



A Casa de Cultura MaCRo, fica situada à Praça Barão do Rio Branco, nº 08, bairro de São Félix e foi inaugurada recentemente após o precoce passamento da atriz, poetisa e militante cultural Maria Cláudia Rodrigues. Desde sua pré inauguração no mês de Julho, tem se consolidado como um importante espaço cultural da cidade realizando reuniões e encontros com artistas dos mais diversos segmentos.

Como atividade de formação, foi realizada entre os meses de setembro e outubro a Oficina de Inspiração Teatral, ministrada por Suelma Costa (Amêsa, No outro lado do mar) quando atores e atrizes valencianos puderam realizar um rico momento de intercâmbio e aperfeiçoamento de técnicas teatrais.

Em Outubro, ocorreu também na MaCRo a primeira Ocupação Cultural, sarau poético musical (www.ocupacaocultural.blogspot.com ) quando foi lançado o projeto DEIXE SUA MARCA onde empresas e entidades estão sendo convidadas a participar. Já participam da iniciativa a Câmara de Vereadores, A Casa Lacerda, Cut Bahia, Aplb Sindicato,Art e Foto, Grafica Prisma e Jornal Valenca Agora.

Em Janeiro, a MaCRo abrirá novos cursos e oficinas entre eles o Curso de Cinema com Araken Galvão, uma oficina de web vídeo com Cadu Oliveira e uma oficina de cordel com Chico Nascimento.


Ficha Técnica
Elenco: Adriano Pereira e Cadu Oliveira
Direção: Juliano Britto
Texto: Cadu Oliveira
Trilha Sonora: Mateus Magyver

Serviço
O que: Espetáculo teatral Há Vagas para Rapazes de Fino Trato
Onde: Casa de Cultura MaCRo ( Maria Cláudia Rodrigues) – Valença/BA.
Quando: 03 de dezembro de 2011, sábado, às 20h.
Quanto: 10 (inteira) e 5 (meia / antecipado)
Realização: OPECADO

terça-feira, 22 de novembro de 2011

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA - ê dendê: olhares sobre a costa do dendê


Será que nos ilhamos, quando olhamos? É a pergunta que me faço, com a câmera entre as mãos e os olhos ansiosos por decifrar e grafar luzes e mundos. Acabo de subir neste barco imaginado que navega a Costa do Dendê há quatro anos, pesquisando e mapeando artesãos da região.

Daqui do barco, eu vejo: olho não é ilha. Primeiro, porque vejo com todo o corpo. Vejo com os ouvidos que escutam novos sotaques e contam velhas histórias, com mãos que tocam outra areia e plantas inéditas, vejo com os pés e os poros, com a palma e o paladar. Como a câmera é uma extensão do olho, fotografo com todo o corpo, que talvez seja mais simples e sincero que o romantismo de fotografar "com toda a alma".

Mas não é apenas com meu corpo que fotografo. Fotografo com muitos corpos, porque o olhar do outro sensibiliza e modifica meu olhar. As fotos tomadas durante os dias de trabalho são projetadas na rua e vistas pela comunidade ao final da visita a uma determinada localidade. Assim, quem é fotografado, de alguma maneira, também fotografa; a câmera deixa de ser ostentada para ser ofertada. O artesão ensina o artista a refazer seu olhar com a naturalidade de um pai que ensina um filho a tecer.

Por isso, falamos em olhares, no plural. Os olhares desatam as ilhas, e nos reconhecemos no espelho d'água. A rede de "Olhares sobre a Costa do Dendê", como rede de pesca lançada ao mistério de rio ou mar, para desmistificá-los, se faz cada vez mais ampla e imbricada.

Marília Palmeira
(Fotógrafa)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

NESSA SEXTA TEM CINEMA NA MaCRo


Para os amantes da 7ª arte, numa parceria com o campus XV da UNEB em Valença, estamos iniciando nesta sexta 04/11, às 18 horas, um projeto de exibição de filmes (curtas e longas).
O projeto ainda está em construção e aberto a sugestões.

Nesta sexta, nossa programação se iniciará com a exibição do filme alemão BAGDÁ CAFÉ

Segue abaixo uma breve resenha sobre o filme:

Bagdad Café (1988)

O filme é sobre a amizade, que surge entre duas mulheres totalmente diferentes: Jasmin, alemã/ branca/rica e, Brenda, americana/negra/pobre, têm em comum o fato de terem sido abandonadas pelos seus respectivos maridos;
Jasmin é abandonada numa estrada pelo marido, então ela vai até uma pensão/ hospedaria, que fica numa região chamada “Bagdad Café”, cuja dona é justamente Brenda; essa região se localiza entre a Disneylândia e a cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos; as duas no começo se estranham, mas ficam, aos poucos, muito amigas; destaque para a belíssima participação coadjuvante de Jack Palance, como Rudy Cox, o novo interesse amoroso de Jasmin;

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

CARTA RASGADA EM RESPOSTA A MARIA SUELMA


( para ser lido ao som de Gal – Fatal, cantando Luz do Sol)

Era agosto e eu ainda vivia um inverno que começou em março, como poetizou Juliano num verão de rachar/ Que faz o mundo mais friorento/ Do que os homens queriam suportar...
Aí apareceu Maria. Outra Maria. Branca de pele, com suas contas de logum edé para ensinar-me a beleza de todos os matizes, superando a dicotomia do preto-branco. Mulher, com sua sensibilidade, a demonstrar-me que um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria/ que o mundo masculino tudo me daria/ do que eu quisesse ter...
Com simples toques, re-educou-me a reconhecer meu corpo/mente como unos re-significando sons e palavras em várias velocidades, rotações. Seu silêncio falava-me tanto... e apresentou-me três p(r)o(f)etas: Grotowsky, Brook, Artaud, com quem eu pudesse dialogar nos momentos de solidão e tirar minhas próprias conclusões do que estava escrito. Maktub.
Maria me deu régua e compasso...Lentamente ela foi me re-ensinando a encontrar a vida/poesia das borboletas e foi até estranho, a gente nem deu conta/ talvez na outra ponta, alguém pudesse pensar/ menino vagalume, flor, menino estrela, a brisa mais forte veio te buscar/ pra temperar os sonhos e curar as febres/ inserir nas preces do nosso sorriso /brincando entre os campos das nossas idéias/ somos vagalumes a voar perdidos...a voar perdidos...
Chegou setembro e um vento na roseira espalhou a primavera... rompendo os muros da Casa de Maria, estávamos nós no Centro de Cultura. Entre coxias e camarins um espetáculo acontecia sendo presenciado por poucos privilegiados: eu, Cadu, Juliano e Otávio. Nossas vozes ecoando através de exercicios que ao que parece haviam sido esquecidos, ao menos por mim. A concentraçao, o cuidado...
A primavera chegou e marcamos nosso solsticio para 15 de Outubro. Precocemente brotaram Marias, Sofias e tantas mulheres e homens ocupando a Casa MaCRo, afinal um galo sozinho não tece uma manhã/ ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele/ e o lance a outro; de um outro galo/ que apanhe o grito de um galo antes/ e o lance a outro; e de outros galos/ que com muitos outros galos se cruzem/ os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos...
Antes de partir, como se já não tivesse me provado que ainda sou o mesmo menino/ que não dorme a planejar travessuras/ e fez do som da sua risada um hino, ela me escreve uma carta aberta a qual transcrevo abaixo pois não posso/devo guardar apenas comigo algo tão grandioso.
Forte Abraço Sue, segue em frente, sem medo, pois és águia, mas não esquecerá jamais o chão onde plantaste e colheu flores!

A Adriano, Gilberto e amigos da MaCRo,
Foi assim que cheguei...
Fui levada ao quintal e sentei com Adriano e Gilberto à sombra de uma mangueira, um limoeiro e um pé de acerola. E me convidaram para participar de um sonho. Como dizer não naquele tão lindo quintal? Como esconder meu desejo imediato de que aquele projeto desse certo? Disse sim. E dizer sim para um sonho é dizer sim para a vida, é abrir a porta que dá acesso a outros sonhos.
Adriano Pereira, ao me trazer para a Casa de Cultura Maria Cláudia Rodrigues, me trouxe para perto do lugar onde a vida pulsa em mim, me deixou livre e, quando vi, estava a arrumar o Quarto Crescente e a esperar pelo 15 de outubro de 2011. Estava dizendo sim para mais um sonho.
Companheiro como poucos, Adriano teve a tranquilidade de se manter ao meu lado diante dos meus medos e das minhas inseguranças. Andamos juntos naquela linha – a tão famosa linha! – que se estende entre o que fomos e o que poderemos ser, correndo o risco de cair em terra infértil e não germinar.
E assim tem sido meu amigo Adriano, um companheiro de travessia, na vida de muita gente. É um equilibrista, vive com o seu corpo inteiro. O que disse Paulo Freire se aplica à existência desse amigo: “ A paixão com que conheço, falo ou escrevo não diminuem o compromisso com que denuncio ou anuncio. Sou uma inteireza e não uma dicotomia. Não tenho uma parte esquemática, meticulosa, racionalista e outra desarticulada, imprecisa, querendo simplesmente bem ao mundo. Conheço com meu corpo todo, sentimentos, paixão. Razão também.”
Mas devo ainda falar do nosso belo jardineiro, Gilberto, que sabe nutrir cada flor dando o que ela precisa. Que nutre a rosa com a sua conversa delicada, o cacto com o seu silêncio, e as flores do mato com o seu olhar apaixonado. E se apaixona e se apaixona e se apaixona... e cuida, com boniteza, da terra... e atrai novas flores para o jardim... ao seu lado somos flores e cuidamos de flores.
Andamos então pelo alto como equilibristas e pela chão como jardineiros...
Temos o ar e a terra, o corpo e seu olhar, o equilibrista e o jardineiro... e Gilberto e Adriano são hoje os que diretamente regem a Casa de Cultura Maria Cláudia Rodrigues , e muitos outros são os que fazem parte desse sonho. Muitos vão chegando e vão sonhando. E vão fazendo o sonho real. Porque em terreno fértil a semente tende a germinar, não é Drico? E vem as flores e as borboletas (são tantas as borboletas!) e os frutos e as novas sementes.
A Adriano e a Gilberto, sobretudo a eles – mas aos outros também – agradeço por essa linda primavera que estamos vivendo juntos. E desejo toda a sabedoria necessária para que não esqueçamos de cuidar do jardim quando chegar o novo inverno.
Sigamos em frente com o ciclo de vida-morte-vida. Porque esse princípio é comum a tudo o que vive. Abramos os nossos sentidos para o que é natural. Festejemos juntos a passagem de cada estação, dando ao nosso jardim a liberdade de morrer para se manter vivo e de renascer quando for a hora.
Eu, que depois de passar por esse lugar especial não sou o que fui nem o que serei, que não sou raiz nem folha nem flor nem fruto, que estou sementinha voando no bico de um passarinho para novas paragens, levo comigo a lembrança do equilibrista e do jardineiro e dos muitos encontros vividos nessa primavera na Casa de Maria.
Obrigada, Casa de Cultura Maria Cláudia Rodrigues! Obrigada, Adriano! Obrigada, Gilberto!

Abraço forte e carinhoso,
Suelma

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

HÁ VAGAS PARA RAPAZES DE FINO TEATRO NO TEATRO DONA CANÔ


A peça “Há vagas para rapazes de fino trato”, mais nova montagem d’OPECADO sobe ao palco do Teatro Dona Canô na cidade de Santo Amaro para participar do Festival de Teatro Anísio Teixeira, dia 1º de Outubro às 20h. O espetáculo, cuja estréia ocorreu em fevereiro no Cine Teatro Vitória esteve em cartaz recentemente no Centro de Cultura de Valença e segue temporada no próximo final de semana em Porto Seguro.

A peça se desenvolve a partir do encontro entre Paco e Tonho, dois rapazes sem qualquer afinidade aparente, que passam a dividir um mesmo quarto de pensão em Salvador. Tonho é o moço sonhador que deixará Santo Amaro para realizar seus sonhos na capital; Paco é o soteropolitano porra-louca, desencantado e perturbador. Num jogo de estranhamento versus sedução, dominação vs. cumplicidade, esperança vs. desengano, os personagens se envolvem numa trama tensa que ora os polariza, ora os aproxima.

Livremente inspirado em Dois Perdidos Numa Noite Suja, de Plínio Marcos, Há Vagas para Rapazes de Fino Trato resgata e dá novos contornos psicológicos à dupla criada pelo dramaturgo, vivida nesta montagem por Adriano Pereira (Teatro Nu) e Cadu Oliveira (Geração Coca-Cola), que também assina o texto. O espetáculo é dirigido por Juliano Britto.

A produção conta com o apoio do projeto Cessão de Pautas Gratuitas – Espaços Culturais Secult, iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, que em setembro contempla atividades relacionadas à diversidade sexual.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Noticías da Casa de Maria


OPECADO está se ampliando, com novos integrantes e novas funções tal qual havíamos combinado. Sua casa, onde nos reunimos tantas vezes, se tudo der certo, continuará sendo a casa do encontro, da cultura, dos artistas, o Centro Cultural MACRO (Maria Cláudia Rodrigues). Um novo grupo está remontando Teatro Nu e muitas coisas boas estão por acontecer. Que sua lembrança seja o combustível para continuarmos trilhando novos caminhos.
Até a vitória, sempre...
(Adriano Pereira
Carta aberta a Maria Cláudia
13 de maio de 2011)


Após a pré-inauguração ocorrida em 15 de Julho da Casa De Cultura MACRO, situada na Praça Barão do Rio Branco, bairro de São Felix em julho deste ano, inúmeras foram as reuniões e encontros promovidos na “Casa de Maria”.

Como atividade de formação, registramos a Oficina de Inspiração Teatral. Iniciada em setembro, a oficina que ocorre aos sábados, das 9 às 12h, ministrada por Suelma Costa (Amêsa, No outro lado do mar) conta com a participação de atores e atrizes da cidade de Valença.

“Há vagas para rapazes de Fino Trato”, espetáculo produzido pel’OPECADO participa agora em Outubro da Mostra Fernando Neves em Santo Amaro e uma breve temporada em Porto Seguro.

Em processo de re-montagem, com uma nova leitura e novo elenco está Teatro Nu, cujos ensaios ocorrem também na MACRO.

Um cine clube com vasta programação está em vias de formação, além do projeto “Deixe a sua marca” onde estamos convidando diversos artistas para deixarem suas marcas e obras nas paredes da MACRO.

O espaço ainda irá oferecer uma galeria para exposição de artes visuais, palco para pequenas encenações e comercializará livros e obras de arte.

Compreendendo a importância da preservação do patrimônio material, pretende-se realizar pequenas intervenções e reformas necessárias, mantendo a estrutura inicial da casa, promovendo uma recuperação e revitalização do espaço transformando-o num centro integrador, difusor e gerador de cultura em Valença.

Assim, agradecemos aos que já colaboram, convidamos a todo/as para conhecerem o novo espaço e convocamos artistas, amigos e amigas de Maria para neste domingo, 25/09, realizarmos um mutirão de pintura da frente da casa.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Peça Há Vagas Para Rapazes de Fino Trato abre temporada de circulação pelo estado com uma apresentação única no Centro de Cultura de Valença


A mais nova montagem d’OPECADO sobe pela primeira vez ao palco do Centro de Cultura Olívia Barradas no dia 17 de setembro, às 20h. O espetáculo, que estreou no Cine-Teatro Vitória em fevereiro deste ano, volta à cena valenciana antes de seguir para uma curta temporada em Porto Seguro e participar de festivais em Santo Amaro e Salvador.
A peça se desenvolve a partir do encontro entre Paco e Tonho, dois rapazes sem qualquer afinidade aparente, que passam a dividir um mesmo quarto de pensão em Salvador. Tonho é o moço sonhador que deixa a sua Valença para realizar seus sonhos na capital; Paco é o soteropolitano porra-louca, desencantado e perturbador. Num jogo de estranhamento versus sedução, dominação vs. cumplicidade, esperança vs. desengano, os personagens se envolvem numa trama tensa que ora os polariza, ora os aproxima.
Livremente inspirado em Dois Perdidos Numa Noite Suja, de Plínio Marcos, Há Vagas para Rapazes de Fino Trato resgata e dá novos contornos psicológicos à dupla criada pelo dramaturgo, vivida nesta montagem por Adriano Pereira (Teatro Nu) e Cadu Oliveira (Geração Coca-Cola), que também assina o texto. O espetáculo é dirigido por Juliano Britto.
A produção conta com o apoio do projeto Cessão de Pautas Gratuitas – Espaços Culturais Secult, iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, que em setembro contempla atividades relacionadas à diversidade sexual.
Parte da bilheteria será revertida para o Projeto Casa de Cultura Maria Cláudia Rodrigues – MACRO, espaço de formação e produção em arte e cultura situado na casa onde viveu a atriz e poetisa falecida em março deste ano.

Ficha Técnica
Elenco: Adriano Pereira e Cadu Oliveira
Direção: Juliano Britto
Texto: Cadu Oliveira
Operação de som e luz: Geilson Britto

Serviço
O que: Espetáculo teatral Há Vagas para Rapazes de Fino Trato
Onde: Centro de Cultura Olívia Barradas – Valença/BA.
Quando: 17 de setembro de 2011, sábado, às 20h.
Quanto: 10 (inteira) e 5 (meia / antecipado)
Realização: OPECADO

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

VALENÇA: UM PROBLEMA DE SEGURANÇA OU EDUCAÇÃO?


“deixa, deixa eu dizer o que penso dessa vida
eu preciso demais desabafar”
(Marcelo D2)

Tinha prometido pra mim mesmo que ia procurar falar/escrever menos esse ano, por que estou preferindo agir. Pouco faz, quem muito fala – diz a sabedoria popular. Mas tem horas que não dá. Aí a gente tem que parar e refletir um pouquinho. Berrar pra acordar os que parecem estar dormindo. Jogar pedras, não pra quebrar vidraças, mas para dizer: - Ei, acorda!
Em meio a guerra nada particular que vivemos, entre balas perdidas, assaltos nas esquinas e o clima de terror em cada parte, fica difícil caminhar na cidade, mas a gente vai tentando, vai levando, vai vivendo...
Sexta-feira, 10 da manhã, to eu saindo do Palácio de Mármores, sede da Prefeitura Municipal, onde estávamos discutindo os preparativos para a Conferência Territorial de Juventude. Aí, na descida, ouço um carro buzinar, olho pra trás e é um dos sobrinhos da política valenciana, desses que morrem de saudade e amor por Valença, mas não o suficiente para aqui residir. Por uma questão de educação, não me peçam para revelar o nome do sujeito.
O sujeito é meu amigo e, sem querer bancar o politicamente correto em moda, gosto dele, há anos somos amigos e nos respeitamos. O sobrinho me diz que não vem à Valença fazer política, até por que já tem muitos parentes envolvidos. Mas inevitavelmente me pergunta sobre as próximas eleições. Aí eu declarei na lata: - meu candidato é Martiniano, para acabar com o racismo nessa cidade!
Claro que até o próprio Martiniano vai achar um exagero. Afinal ainda vivemos um racismo velado e ninguém vai se admitir racista, imagina uma cidade... E, mais a mais, ele está tão entranhado que vai ser preciso superá-lo inclusive entre companheiros, para daí então construir-se uma campanha com raça e cor da maioria da população valenciana, coisa que está muito longe de acontecer, embora não impossível.
Difícil, inclusive, por que o racismo é primo-irmão do preconceito, onde desqualifica-se as posições divergentes, sob o argumento presunçoso e um certo ar de superioridade onde estes (os superiores) simplesmente não perderão tempo dando importância a idéias tão absurdas.
Aos que assumem o risco de realizar a auto-crítica é reservado o paredão. E, sabemos, o fogo-amigo mata mais do que o inimigo. Como cantou Fred 04 “é bom rezar todo dia para não virar alvo de uma missão humanitária aliada”.
Segunda-feira, chego em casa tentando almoçar e a sirene invade o silêncio anunciando pelo rádio os números de mais uma mega-operação no bairro da Bolívia: 04 presos com armas de fogo, 3 menores e um maior. Aí resolvo fazer uma pesquisa nos meios de comunicação de nossa cidade que serve apenas para reafirmar o que ouvi nos dois últimos eventos públicos que participei (a Conferência Municipal de Juventude e o APLB debate o bairro da Bolívia): Morrem ou são violentados cotidianamente em Valença jovens negro/as na sua maioria do bairro da Bolívia.
Não precisa ser nenhum especialista. Basta cruzar os dados e os números se tornam muito claros, ou melhor, com o perdão do trocadilho, escuros. Aí faz todo o sentido o racismo ao qual eu me referia acima e que as velhas oligarquias brancas, preocupadas apenas com sua segurança e acumulação agora ameaçam ir ás ruas para cobrar do Governador Wagner mais segurança, que significa mais policiais e todo o aparato repressivo para prender pretos e pobres que sem emprego e perspectivas abusam das drogas.
Mais segurança! – gritam! Mas nenhuma palavra sobre as suspeitas de corrupção que já começam a pairar sobre as obras do PAC na Bolívia. Nenhuma palavra em defesa do campus da UFRB em Valença, no bairro da Bolívia, como defendeu a presidente da APLB. Nenhuma palavra sobre o mutirão por mais emprego que emprega mais papéis e sobrinhos e se orgulha de ter gerado 82 empregos formais em abril quando o nosso desempregado passa da cifra das centenas. Nenhuma palavra sobre a situação de abandono em que se encontra a Escola Eraldo Tinoco. Nenhuma palavra sobre o fechamento da Escola Clemenceau Teixeira – escolas que eram do Estado, mas passaram a ser administradas pelo município.
Agora, que o governador vem à Valença, os mesmos insuflam os valencianos para irem às ruas clamar por mais segurança. Não estranhará também que recorram também á velha cantilena de reativação do aeroporto. Instrumento importante, mas que até hoje não funciona por que foi feito de forma mal planejada e aceito pelas oligarquias como um grande presente em gestões passadas.
Falta vontade política! – vão dizer, por que não aceitam que a Bahia de Todos Nós governe para quem mais precisa inaugurando uma escola de ensino médio no Orobó.
É a mesma direita perversa que defende “direitos humanos para humanos direitos” por que não conseguem conceber a diferença... São anos acumulados de um racismo e, por que não dizer, machismo, já que como exemplificava o professor Joélio a toda uma geração a carga que sofre no Brasil uma preta velha.
Dói, ainda mais, constatar que nas “terras do Una”, parodiando a Morte e Vida Severina, nossas pretas morrem “de velhice antes dos trinta/ de tiro antes dos vinte/ de fome um pouco por dia”.
Mas, como cantou outro poeta “são quase todos pretos/ ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres/ e pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos” (...)
Mais segurança! – gritarão, por que dentro dos seus carros, fechados com ar condicionado, ou entre muros, não conseguem enxergar nem caminhar por uma cidade arrasada por um gestor irresponsável que não vê além dos limites do seu nariz de Pinóquio.
Felizmente, a mentira tem pernas curtas. Com educação, escreveremos uma nova página na história de uma cidade “nunca vencida”.
Ou como finaliza D2 “deixa pra lá, eu devo tá viajando/ enquanto eu falo besteira nego vai se matando...”


Valença, 2 de Setembro de 2011
Adriano Pereira

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

CONFERENCIA DE CULTURA EM PTN NESTE DOMINGO ABRIU O CALENDÁRIO DA BAHIA


Com presença de diversas autoridades locais, artistas, militantes da cultura e população em geral, a cidade de Presidente Tancredo Neves, a 72 km de Valença - Bahia, abriu o ciclo de Conferências de Cultura no Estado da Bahia.


Presente também a Diretora de Cultura, Edna Xavier, acompanhada pelo produtor cultural e colunista deste site, Adriano Pereira; pela coordenadora do Memorial da Câmara de Vereadores de Valença, Janete Volmeri e pela militante da UNEGRO, Kátia Costa, que, além de prestigiar o evento, foram acompanhar de perto a metodologia aplicada.


As conferências têm por objetivo criar os Planos Municipais de Cultura. Nela, os participantes são agrupados em 6 eixos temáticos: Expressões Artísticas, Patrimônio e Memória, Pensamento e Leitura, Tranversalidade da Cultura, Gestão da Cultura, Redes Produtivas e Serviços Criativos. Neles, os grupos apontarão três projetos a nível municipal e um projeto a nível territorial a serem desenvolvidos na área.


Em Presidente Tancredo Neves foram eleitos 7 delegados que serão responsáveis por levar as propostas para a Conferência Territorial e criado também um grupo de trabalho para concluir o Plano e acompanhar os trâmites no Executivo e Legislativo do município.


Em Valença, a Conferência está marcada para o dia 18 de setembro no Centro de Cultura de Valença.

Quem esteve também presente na Conferência foi o diretor da Associação de Dirigentes Municipais de Cultura, Ricardo Bonfim. Ricardo, que também é gerente de cultura em Gandu, aproveitou para convidar os presentes e ultimar detalhes para a realização da Conferência Territorial do Baixo Sul que acontecerá nos dias 22 e 23 de outubro na cidade de Gandu, cuja abertura acontece na praça São José com uma Feira Cultural onde cada cidade do Baixo Sul apresentará num stand a cultura do município. Um palco também está reservado para apresentações das manifestações artísticas.


Já a Conferência Estadual acontecera na cidade de Vitoria da Conquista nos dias 30 de novembro a 03 de dezembro de 2011.

publicado em www.baixosulnoticias.com.br

Acesse, comente e divulgue!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Lançada a Coluna de Cultura de Cultura do Baixo Sul Notícias‏


Prezad@s

Escrevo para informar-lhes do lançamento de mais um meio de comunicação. Nele estarei escrevendo sobre cultura no Baixo Sul da Bahia
Peço que entrem no site www.baixosulnoticias.com.br e acessem o link cultura para conferir a mais nova publicaçao. Espero contar com a ajuda de tod@s contribuindo com seus comentários, informações e notícias, além de divulgar esse nosso espaço.

Abraços

sexta-feira, 3 de junho de 2011

"ONDE ESTÃO OS HOMENS DESTA TERRA?"


Essa é a segunda vez que o MPE consegue intervir proibindo a realização da Marcha. No ano passado, uma liminar embargou o ato público que sairia do Campo Grande até a Praça da Sé. Cerca de 50 pessoas chegaram a ir ao local com faixas e cartazes para protestar dentro do que chamavam de “Marcha da Democracia”. Ainda assim, a polícia foi acionada para inibir a ação dos jovens.

REPERCUSSÃO – Este ano, uma cópia da liminar será enviada a outros 14 estados onde estão agendadas Marchas da Maconha entre os dias 2, 3 e 9 de maio. A ideia é fazer com que o evento seja embargado com antecedência, como aconteceu em João Pessoa (PB), onde a Justiça também exigiu o cancelamento. No entanto, pelo menos no Rio de Janeiro já foi conseguido um habeas corpus que garante a realização no dia 9.

Ao saber da decisão judicial, o representante da União Nacional dos Estudantes no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), Sérgio Vidal, lamenta que mais uma vez seja vedado o direito de discutir uma questão importante como o uso da maconha.

Sérgio explica que a Marcha teria o objetivo de promover reflexões sobre a política de leis relacionadas a drogas no Brasil. “Não é um evento somente para usuário de maconha. É para qualquer pessoa que se interesse por esse debate”, afirma, após lembrar que desde a semana passada 10 mil panfletos vinham sendo entregues em bares e shows para alertar sobre o dia do evento e pedir que ninguém fumasse maconha durante a Marcha.

“Com esse tipo de ação, o MP reforça a exclusão em relação aos usuários da maconha”, assinala Vidal. Questionado sobre o fato do MP argumentar que o site utilizado para divulgar o evento seria “clandestino”, ele lembra que o Coletivo Marcha da Maconha Salvador, formado por estudantes de universidades públicas e privadas na capital baiana, é responsável pela organização do evento e todos os contatos estão disponibilizados no site.

Já é velh conhecido o jargão cunhado por Otávio Mangabeira: Pense num absurdo! Na Bahia tem precedente!
Parafraseando Chiquinha Gonzaga: Onde estão os homens desta terra?

terça-feira, 24 de maio de 2011

PROGRAMA ARTE JOVEM NESTA TERÇA MOVIMENTA A JUVENTUDE DE VALENÇA


No dia 31 de maio, às 15 horas, no Centro de Cultura de Valença, acontece mais uma edição do Programa Art Jovem. O programa é uma realização do Ides - Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul, em parceria com a DIREC-05.

A proposta do Art Jovem é oferecer um espaço de integração cultural no formato de programa de auditório, com ênfase na discussão e reflexão de importantes temas sociais.


No encontro de Valença, será tratado o tema “Prevenção e Combate à Violência”, instigando a curiosidade e despertando a consciência do jovem para reflexões acerca desta relevante questão.

Também serão apresentados grupos culturais locais como o “Hip Hop” da Escola João Leonardo e o “Repente” e o grupo de dança do COESVA. O quadro “Expressão Jovem” revelará os talentos de Henrique Menezes, estudante do Colégio João Cardoso, que fará apresentação musical com voz e violão. No “Papo Cabeça”, Salete Lucena, presidente da APLB (Costa do Dendê) falará sobre a importância do papel do educador na prevenção da violência. O programa também contará com a participação do presidente da OAB-Valença, Dr. Pedro Geraldo do Nascimento.

O Art Jovem é mais uma iniciativa para promover o fortalecimento da cultura local e da cidadania do jovem, com a participação da platéia, discussão sobre o tema, e entretenimento. A ação é parte da estratégia das escolas estaduais de Valença (Colégios João Cardoso dos Santos, Gentil Paraíso Martins, COESVA e Escola João Leonardo da Silva) em intensificar iniciativas que contribuam para a redução dos casos de violência na cidade de Valença.

O jovem valenciano terá a oportunidade de mostrar e apreciar sua própria cultura, além de exercitar sua liberdade de expressão e reflexão.

“A Educação tem a missão de ajudar a construir uma sociedade de paz. O Art Jovem vem discutir a violência como um problema social grave que deve ser enfrentado por todos. É indispensável que a comunidade escolar participe das soluções, fortaleça as relações de solidariedade, e que a escola promova a integração democrática, ou seja, envolva as parcerias necessárias para promoção da cultura, da ética, da paz, da valorização da vida”. Ressalta Flordolina Angélica, diretora da DIREC-05.


O que: Programa ART JOVEM (realização: IDES, DIREC-05 - COESVA,

Colégio João Cardoso, Escola João Leonardo e Colégio Gentil)

Onde: Centro de Cultura de Valença

Quando: 31 de maio, às 15 horas.

Quem: estudantes, pais, professores, dirigentes e funcionários das escolas estaduais de Valença, com participação de autoridades, imprensa e grupos culturais locais.


ENTRADA FRANCA

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Carta Aberta a Maria Cláudia Rodrigues


Valença, 11 de Maio de 2011


Passou-se pouco mais de um mês. Sua partida brusca ainda nos mantém suspensos entre a saudade e a dúvida. E nós, para continuar, vamos recompondo-nos, juntando o que sobrou e completando o que ficou. O que aconteceu de fato? É pergunta que não tem resposta definitiva. Pelo menos por enquanto. Em um réquiem publicado no Valença Agora, Galvão, autor de uma moção pelo seu passamento no Conselho Estadual de Cultura, registrou: “Falou-se inicialmente em suicídio, porém a Polícia está investigando o ocorrido, uma vez que há suspeitas de que pode ter sido assassinato. Não sabemos o que realmente houve, por isso solicitamos às autoridades uma investigação rigorosa dos fatos.” Quando a noticia se espalhou como rastilho e os fatos começaram a se consumar, uma espécie de re-encontro não marcado foi acontecendo. Poeticamente, Cíntia lá de Sampa, embora outra incrédula em relação ao seu suicídio, lançou outra sentença: “Fui convidada, mas não pude ir ao Centro de Cultura assistir a peça mais triste que jamais imaginei ser lançada. A atriz imóvel e calada, de corpo frio e pálido estava ali, simplesmente porque decidiu fechar as cortinas e terminar com o espetáculo. E como toda diva, imperou sua vontade. Não tem como lutar contra a vontade de uma diva!!! Amor e muita raiva por você ter feito isso”. Ricardo, Lu, Tato, Hilas, Nuno, Núbia, Juliano, David, Irene, Juliano, Gilberto, Otávio, Isaias, Nádia, Cássia, Ivo, Luana, Ramon, Flor, Artur, Salete, Flávio, Benilton, Manoel, Daise, Yara, Luiz, Cadu, Anderson, Joana, Jonas...
Difícil recordar todos os nomes e rostos, as incontáveis ligações, mensagens dos que não puderam se fazer presente fisicamente, mas de alguma forma, gritavam uma dor e uma saudade... no painel que organizamos de improviso, algumas foram afixadas: Van Sena, Dailene Souza, Jefferson Brandão, padre Gutemberg... na última hora Vidal enviou um réquiem, lido entre soluços entrecortados no seu funeral:

Réquiem para uma Jovem
(M.C.R., in memoriam)
Todo pássaro nasceu para ser fogo.
Todo fogo nasceu para ser canção.
Toda canção nasceu para ser estrela.
Toda estrela nasceu para paixão.
E toda paixão nasceu para ser pássaro.
Os sonhos jamais foram o limite
Quando se aspira à Ígnea Flor que vive além do horizonte.
Contudo (talvez) faltou uma mão amiga
(talvez a minha
E isso dói muito)
Que, do Destino, o laço sombrio desamarra-se.
Teu grito mudo quebrou-se no Abismo,
Anunciando a Jornada precoce….
Do seu pássaro, então, sobrou a lembrança da luz,
E do fogo, o eco amargo na parede.
Sua canção não resplandece no infinito,
Nem a estrela floresce no coração.
Paixão, suas asas de anjo agora passeiam no horizonte,
Como uma saudade de lágrimas duras.
Vá, meu anjo, percorra as searas dos deuses
E declame teus versos de fogo na amplidão.
Ocupe os palcos de nuvens que por ventura tua sombra passar,
Que daqui ouviremos tua estrela cantar, sempre.

Uma pergunta sartreana calou fundo dentro de nós todos: - O que estamos fazendo com nossas únicas vidas? Aí bateu uma vontade de abraçar todo mundo. De cuidarmos mais de nós mesmo. Dos que ficaram. E aí, remontando aos bons tempos do movimento estudantil, lancei minha palavra de ordem: transformar o LUTO em LUTA. Lutar para concretizar o nosso sonho que você tão bem poetizou na “Ocupação Cultural” e que Siro, através das ondas da rádio comunitária Rio Una FM, ecoou numa singela homenagem pelos 4 cantos da cidade.
O encontro estava marcado: 1º de Abril, numa noite dedicada ao Teatro e ao Circo, com todas as contradições que a data nos oferecia.
Mas um encontro é feito de desencontros, esperas, atrasos, expectativas e surpresas. De terras cervantinas, lá da Espanha, Roberto o “poeta-sem-poema” enviou não um mas três poemas, para serem lidos na Ocupação. Henrique garimpou vídeos e preparou uma bela homenagem onde ouvir sua voz provocou uma nova significação “por que eu sou forte e deixo marcas pelo chão”... Da Itália, Marcelo Natureza, mandou outro vídeo/depoimento emocionante... Chico Nascimento não pôde comparecer mas mandou um poema:

Precoces estrelas riscam os céus todas as noites
Uma dentre elas tem nome Maria
Uma dentre elas tem tempo mulher
Uma dentre elas tem fome de tempo
Uma dentre elas descreve paixão
Uma dentre elas explode sorriso
Uma dentre elas respira gritando
Uma dentre elas pulsa amizade
Uma dentre elas revela beleza singular
Uma dentre elas se cala na dor
Uma dentre elas impacta no olhar
Uma dentre elas escandaliza o pensar
Uma dentre elas sobrenomeia Cláudia
Uma dentre elas sabe que...
Estrelas Negras nunca se apaga!
Não chora
Não fala
Não acorda
Mas brilha eternamente nos palcos do nosso coração!

Assumimos o desafio de reunir OPECADO para remontar ao menos uma cena de Teatro Nu. Inicialmente David topou, mas me lançou uma pergunta emblemática:
- Quem vai substituir Maria? - O silêncio imperou por alguns segundos. Mas a resposta veio:
- Ninguém!
Litiane e Flávio marcaram presença. Vontade não faltou, mas Patric e Onça não puderam. Também não compareceram o velho Jhon, Giba, nem Otávio... mas como o próprio Mota havia escrito em outra ocasião, no épico Maria Preá:

“era hora de anistia
de fazer voltar o tempo que inspira
os poetas, atores, atrizes, músicos, bailarinos,
os artistas,
para ocupar: praças, avenidas, guetos,
becos, quilombos, salas de estar
e falar das dúvidas, das dádivas
das sobras e da ousadia
dos que por nada deste mundo
entregam os pontos”...

E assim “o espetáculo da vida, foi teimosamente se fabricando”. “caminhando, cantando... e carregando caixas” estávamos eu e Tato, quando Manoel subia na escada para esticar uma faixa... riscado no chão um anagrama intradúzivel para a escrita comum. Henrique dedilhava ao violão uma das muitas canções que tocou com você e quando dei por mim já estávamos (eu, Nádia e Artur) abraçados cantando: “um som negro, um Deus negro... o negro no poder...”Trocamos o negro do luto pelo branco, como que inconscientemente a celebrar o “novo ano” que se iniciou naquele 1º de Abril. Não passava despercebido a palavra “amor” grafada em letras vermelhas. E houve mais música para emocionar os presentes: Mateus cantava “você mora em meu coração/ não me deixe só aqui”. Existem canções. E se era para ser um som negro, Seu cumpadi, David Willyan, calou-nos fundo quando relembrou: “por que eu sou forte e deixo marcas pelo chão/ por que eu sou forte, pele negra...” Amigos como Hilas e Galvão também falaram algumas palavras. O decano Mustafá Rosemberg recitou versos e outras mulheres ocuparam o espaço que você deixou: Crisolêda, Isabela, Jusci...
Mas a roda-viva continuou a girar num círculo crescente... a cena, marcada e ensaiada de Teatro Nu veio, não com atraso, pois fazia um mês que você havia desencarnado. Na noite de 20 de Abril, Paixão de Cristo, numa Santa Ocupação, lá estávamos nós mostrando OPECADO.... Quando “nosso” diretor Flávio perguntou:
- Não está faltando ninguém? – nosso mestre Jhon respondeu em versos:

Uma sensação de amor fraterno
Tão forte quanto raro sentimento
Fisga o coração neste momento
Como se fosse um recado eterno.

“Eu sou, eu sou, eu sou amor, da cabeça aos pés”

A impressão é que esse pensamento
Vem da lembrança do teu rosto
Terno, aguerrido e militante
Que hoje aparece num caderno
Mostrando ao mundo seu sofrimento.

“Eu sou, eu sou, eu sou amor, da cabeça aos pés”

Pois estrela matutina, nesse verão de rachar
Que faz o mundo mais friorento
Do que os homens queriam suportar,
São homenagens daqueles que de tanto lhe amarem
Também lhe viram as costas...
Tua imagem aguça o amor paterno
Que precisa de um forte ungüento
Para a cada dia recomeçar.

“Eu sou, eu sou, eu sou amor, da cabeça aos pés”

Ao final, comungamos todos da Santa Óstia Cultural e juntos professamos nossa fé no poder de transformação da arte através dos Estatutos do Homem, escritos pelo poeta Tiago de Melo.
E, para os céticos, que não acreditam que estamos juntos. Aí vai mais uma que estava me esperando no PC, assim que cheguei em casa, vinda do irmão Benilton, lá de Tancredo Neves:
Maria
Em soluços canto ao vento, que sequidão;
Sem ti, sem Lagrimas, sem gosto;
Nudez sem som sem sobra ao sol em pino;
De dor em dor, engulo seu nome, solidão;
Grito, afônico, noite adentra;
Sem dor, sem néctar, sem razão;
De cor em cor mastigo seu nome, Escuridão;
Silencio a madrugada de meu ser;
Se ar, sem Luz, sem chão;
De flor em flor, regurgito seu nome, Perdão.
Benilton S. Muniz 20/04/2011 21:40
Bom, vou terminando por aqui. Muita coisa anda ainda acontecendo. A Ocupação continua. No mês da abolição da escravatura, preferimos ir do reggae ao rock numa homenagem a outro negro que nos deixou há 30 anos: Bob Marley.
OPECADO está se ampliando, com novos integrantes e novas funções tal qual havíamos combinado. Sua casa, onde nos reunimos tantas vezes, se tudo der certo, continuará sendo a casa do encontro, da cultura, dos artistas, o Centro Cultural MACRO (Maria Cláudia Rodrigues). Um novo grupo está remontando Teatro Nu e muitas coisas boas estão por acontecer. Que sua lembrança seja o combustível para continuarmos trilhando novos caminhos.
Até a vitória, sempre...



Adriano Pereira

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Um Réquiem à Paulo Queiroz



No início da semana manifestei a "mudez" perante a destruição do nosso patrimônio histórico.
Divido com vocês o email que recebi de Cíntia, publicando-o aqui como uma espécie de Réquiem:

AH Dri,

Ainda ouço a voz do Paulinho cheia de fumaça envolvendo aquele corpo tão fácil de ser abraçado. Pessoa de riso fácil, bom de lembrar músicas e piadas, histórias maravilhosas sobre pessoas comuns... Paulinho tinha o dom de transformar qualquer caso corriqueiro e qualquer pessoa comum numa cena de cinema. As mãos magras se levantavam ao ar e a história parecia ganhar vida enquanto ele a regia como um maestro a frente de uma orquestra.
Quantas vezes deixei Paulinho a frente do casarão, onde ele entrava pela porta e evaporava... Tantas outras vezes me deparei com Paulinho abrindo a porta e saindo do casarão, batendo no ombro e dizendo:
- E ai, japonesa baiana!

É... percebo aos poucos que a Valença que deixei não será a mesma que deixei. Por tudo que tem acontecido,


essa nova Valença me parece tão mais triste...


Amor,

Cintia.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Bahia tem... Nádia Taquary


Nascida em Salvador, atlântica, criou-se em Valença, beira de mar e rio. É de Peixes. Um ser de águas recôncavas. Seu pai, professor de educação física e ginástica olímpica de formação, também lidava com jóias. Era um fazedor de coisas, guardador e restaurador de objetos que saiam perfeitos de seu galpãooficina no fundo da casa. Nádia, a índia Taquary, de olho, pescando tudo.


Cursou letras, mas apaixonou-se pelas artes. Estudando, encontrou-se nos textos sobre cultura africana e descobriu as ‘joias de crioulas baianas’ no livro ‘Círculo das Contas’, do Museu Carlos Costa Pinto. A cada página abria-se um mundo de encantamentos, memórias
da infância, das peças dadas por seu pai, da identidade com aquela estética tão familiar.


A Bahia tem... é uma louvação à Bahia negra, misturada e rica, às águas como caminho que embalou o rico legado de nossa história. É o resultado de um encontro entre África, Europa e o novo mundo, onde a opulência e o requinte das ‘joias de crioula’ recriadas por Nádia Taquary nesta versão contemporânea, pretende aguçar sua lembrança de um belo tão intensamente nosso.

O mote da mostra veio da música “O que é que a baiana tem?”, de Dorival Caymmi (gravada por Carmem Miranda), na qual se fala das jóias, balangandans e vestimentas das mulheres negras da Bahia no começo do século. A artista uniu o tema ao conceito da linha Olorum Bamim e fez as obras, que contemplam colares com formas diversas: abertos, fechados, com múltiplas pontas, balangandans e com figas.

Olorum Bamim – O nome, elaborado com sugestões do artista plástico Mestre Didi e de Adbié , significa proteção do Deus maior. O projeto teve origem numa pesquisa de pós-graduação da artista plástica sobre as jóias que as crioulas usavam no Brasil durante o período colonial. “Fiquei fascinada com a exuberância do encontro dos três mundos (Europa, África e Brasil) e da forma como isso refletia nos adereços daquelas mulheres”, conta Nádia, que também se inspirou no livro “O círculo das contas”, da historiadora e museóloga Solange Godoy, feito para o Museu Carlos CostaPinto (BA). O livro explica como as jóias de crioulas chegaram a Salvador e ao recôncavo baiano. “Um povo que não se olha e que não se reconhece, empobrece; pois, nada do que possui é verdadeiramente seu”, arremata a artista.

Com informações do www.culturabaiana.com.br

terça-feira, 26 de abril de 2011

CANÇÃO SEM EXÍLIO? - FIQUEI MUDO!


Em Abril do ano passado, publiquei um artigo denunciando a destruição do nosso patrimônio material, devido a falta de ação do poder público e das autoridades. Reproduzo um trecho abaixo:

“Na descida do calçadão para a praça, mais precisamente na conhecida ladeira da antiga Casas Pernambucanas, encontra-se mais um sobrado. Neste, residia o poeta e compositor boêmio Paulinho Queiroz. Os mais antigos hão de lembrar daquele ser enigmático e inebriado com sua branca cabeleira a errar pelas ruas do antigo cais do porto. Mas poucos sabiam do seu talento ao violão, sua paixão pela bossa, que o levou a compor músicas como “história em D”, entre outras. Paulinho faleceu. A sua última residência encontra-se fechada e abandonada. À frente, uma horripilante faixa em tons garrafais: “Vende-se este ponto comercial”. É uma residência ainda, com assoalho de madeira e janelões na fachada. Mas os vendedores insistem em transformá-la desde já em ponto comercial. Talvez para valorizar ainda mais sua venda. É triste.
Ao que me consta, Paulinho era irmão da poetisa Rosângela Queiroz, autora da “Canção sem Exílio, publicada recentemente na coletânea Rio de Letras.
(...) para que a poesia se materialize fora do papel e seja, toda ela, presença na cidade, faço aqui um apelo. Recuperem o casarão. “Não permita Deus...” que este também vire objeto da especulação imobiliária. Como dizia Caetano, “da força da grana...”. Transformem-no ao menos num monumento à família Queiroz. Uma instituição privada. O que quer que seja. Mas não privem os nossos e o futuros olhos de ao menos poder olhá-lo sua fachada e saber da sua história. Assim, será possível entoar com mais propriedade os versos: “Ah, eu não morro sem ver/ essa cidade vim a ser/ o que perdeu de seu...”

Neste domingo, exatamente um ano após, ao passar pelo “casarão”, encontrei com trabalhadores retirando entulhos. O prédio, assim como os outros, foi, sorrateiramente demolido. Dele, só resta a fachada.

Fiquei mudo!


CANÇÃO SEM EXÍLIO


Ah, eu não morro sem ver
esta cidade vir a ser
o que perdeu de seu...
Tudo nela está em mim
como minha mãe e meu pai...
E a ausência deles
é essa presença que sinto nas fontes,
nascentes de minha identidade.

Vejo os sobrados, dormentes,
escorados no cansaço da praça.
Quase ninguém os vê...
Como não se ouve também ou sente
o rio em seus gemidos – cápsula de
solidão
sob grandes lajes sem gestos
em meio à efervescência de rodas,
sangue,
músculos e pressa...

Há em mim um universo enorme
que não dou conta de dizer sobre meu
lugar.
Por isso não posso me calar ante o luar
que posa escandalosamente
sobre o mar de Guaibim.
Como deixar de considerar a concreta
realidade
das pontes que passam,
das águas que rolam,
da vida que segue com seus adeuses?

Em cada árvore abatida,
há a semente de todos nós.
Em cada antigo soçobrado,
vive uma história em nossa voz.
Queira Deus que eu não morra
sem ver as cores desse dia-a-dia
se alegrarem com o sol
da hora límpida do amanhecer...

Tudo quanto levo na alma
é essa paixão pela vida
essa carícia de minha cidade
a se abrir lentamente ao beijo das águas,
à substância dos mangues
e ao acalanto das noites estreladas
debruçadas neste berço que habito.

Em tudo aqui me reconheço
e pingo na paisagem primogênita...
Ah, eu não morro sem ver
a terra que não posso levar comigo
ser a verdade dos seus tumultos azuis,
onde virei escorregar em sua luz...

terça-feira, 12 de abril de 2011

VENHA PECAR COM A GENTE!



OPECADO na verdade não chega a ser um grupo institucionalmente organizado, mas sim um coletivo de artistas valencianos. Surgido no ano de 2005, seus primeiros integrantes montaram o espetáculo cênico “Teatro Nu” cuja montagem rendeu-lhes os prêmios de melhor espetáculo e melhor interação com a platéia no Festival de Teatro do Baixo Sul. OPECADO, enquanto Oficina permanente sempre se propôs a fazer arte questionando o seu fazer artístico. Em seu manifesto inicial afirmava-se como “um grupo de artistas sem pretensões de formar qualquer tipo de instituição legal”. Atualmente, os integrantes do Grupo estão envolvidos no projeto Ocupação Cultural, uma espécie de sarau realizado periodicamente no Centro de Cultura de Valença. A Ocupação Cultural tem sido destaque por promover um amplo diálogo com diversos artistas do Baixo Sul. Ao longo de um ano e meio, por lá já passaram mais de 100 artistas dos mais variados ramos das artes, promovendo um grande intercâmbio cultural.

Em 2010 além da Ocupação Cultural, no Centro de Cultura, OPCADO realizou também edições do projeto nas cidades de Santo Antônio de Jesus e Salvador, assinou também a montagem do espetáculo “Os Mortos”, participando do Festival de Teatro Amador de Salvador.

Para 2011, até o presente momento, além da Ocupação, assinou a montagem do espetáculo “Há vagas para rapazes de fino trato” e o I Encontro de Música Alternativa em Valença. No entanto, estamos apostando que podemos fazer mais. Por isso convidamos-lhes para participar da 1ª reunião d’OPECADO a se realizar no Centro de Cultura de Valença, às 20h, desta terça-feira, 12 de Abril.



O QUE: Reunião d’OPECADO – Oficina Permanente de Criações Artísticas Deus Omni

ONDE: Centro de Cultura de Valença

QUANDO: 12/04/2011 às 20h

QUEM PODE PARTICIPAR: Maiores de 16 anos

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

I Encontro da Música Alternativa em Valença: upgrade na cena rock


Nos últimos dois anos, alguns acordes, riffs de guitarra e baixo, rufos de bateria e grooves afins ressoam em alguns espaços de Valença, aqui e acolá, sinalizando para a real existência de uma cena rock na cidade e que andava meio adormecida. Falo, por exemplo, da Ocupação Cultural que abriu o palco para bandas como Os 4 Elementos, O Chamado, Status, Garagem 23, No I Feel, Flor de Venus, Dimenor; falo do show de lançamento de Os 4 Elementos; da vinda do Cólera produzida por Gugui Martinez; dos encontros realizados pela Doom Ocultan; das três edições do Sound System Caminhos do Reggae... só pra citar alguns sinais evidentes de que “...o pulso ainda pulsa”.
Falando em pulso, Valença já foi mais pulsante, quando por aqui bandas como Espaço Curto, Rock Bis, Curto Circuito, Pêra Peluda, Besouros que Fedem, UTI, Os Vermes, MasMorra, Kilombra, Dynamus, Anhangá, Car Kills Frog, Utrampo, Disteria. Armengados, The Hangers, Hardcross, ET², entre outras, compunham um cenário com muito mais shows e encontros de rock. Era mais movimento, mais pulsação.
Pois bem, o I Encontro de Música Alternativa em Valença, acontece no dia 19 de março, no Centro de Cultura Olivia Barradas, prometendo injetar uma overdose de rock nas artérias da cidade. Adriano Pereira, produtor do evento, afirma que “Será um encontro de diferentes tribos em um dos melhores espaços culturais do interior baiano”. E acrescenta: “O movimento tem como objetivo integrar diferentes segmentos da arte em um só dia, apresentando ao público diferenciadas manifestações artísticas. Teatro, Poesia e muita música irão compor esse primeiro encontro”.
Entre as bandas convidadas está a Dynamus de Salvador, um power trio de metal/hardcore que se apresenta em Valença depois de anos sem pisar nos palcos da cidade onde surgiu. Formada por Eldo Luiz, Amarildo Santos e Ticiano Lima, o grupo promete detonar a sonzeira no evento, para marcar o reencontro da banda com o público valenciano. Quem não conhece, pode conferir: www.myspace.com/dynamusxxx. A outra banda convidada é a Kodesh de Itabuna, que vem com seu poderoso punk/crossover. A banda acaba de lançar seu primeiro single na Internet – Fronteiras Suicidas – e desembarca na cidade para mostrar músicas inéditas que estarão no primeiro cd, previsto para ser lançado ainda neste primeiro semestre. Confira também: http://www.myspace.com/kodesh.ba.

Completam o cast do I Encontro de Música Alternativa em Valença duas bandas locais. A No I Feel, que surgiu em 2004, movimentou a cena na época e reapareceu no final de 2010 com uma nova formação. Após apresentar-se na Ocupação Cultural e em outros eventos de rock na cidade, o grupo composto por Raoni Draven, Mateus Magyver, Marllon Santos, Douglas TheRev e Ales Rangel, traz no repertório novidades como Baudelaire and Wine e Shadows in the Heart, compostas por Raoni. No blog da banda tem mais novidades: http://bandanoifeel.blogspot.com. Já Os 4 Elementos propõe uma fusão de linguagens artísticas - tendo a música como eixo estruturante - para denunciar as mazelas da contemporaneidade. Misturando reggae, dub e rock progressivo, as apresentações da banda articulam poesia e artes cênicas. Com nova formação – David Willyam, Fred Gazo, Mateus Magyver e Mauricio Campos – Os 4 Elementos vem marcando presença no contexto cultural do Baixo Sul. Para viajar na originalidade da banda, acesse:
http://bandaos4elementos.blogspot.com ou www.myspace.com/os4elementos.


Publicado por Plutarco Drumond no jornal Valença Agora Nº 303 - p. 13 - 17 a 23/02/2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

HÁ VAGAS PARA RAPAZES DE FINO TRATO NO CINE VITÓRIA


Após um ensaio aberto para convidados realizado no final de 2010, a nova montagem d’OPECADO entra em cartaz nos dias 25, 26 e 27 de fevereiro, sempre às 20h, no Cine Vitória, em Valença.

A trama se desenvolve num quarto de pensão na capital baiana. Nele, estão Paco e Tonho, dois jovens sem qualquer afinidade aparente, que se veem obrigados a dividir o mesmo espaço. Tonho é o moço sonhador que deixa para trás a sua Valença, onde até então vivia sem muitas perspectivas, para realizar seus sonhos na capital. Paco é o soteropolitano porra-louca, desencantado e perturbador. Num jogo de estranhamento vs. sedução, dominação vs. cumplicidade, esperança vs. desengano, os personagens se envolvem numa trama tensa que ora os polariza, ora os aproxima.

Livremente inspirado em Dois Perdidos Numa Noite Suja, de Plínio Marcos, Há Vagas para Rapazes de Fino Trato resgata e dá novos contornos psicológicos à dupla criada pelo dramaturgo maldito, vivida nesta montagem por Adriano Pereira (Teatro Nu) e Cadu Oliveira (Geração Coca-Cola), que também assina o texto. O espetáculo é dirigido por Juliano Britto (A serpente, Esperança, Os Saltimbancos, Os Mortos )

ONDE: CINE TEATRO VITÓRIA
QUANDO: 25, 26 E 27/O2
Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

CONFIRMADO: NO I FEEL E OS 4 ELEMENTOS NO ENCONTRO DA MÚSICA ALTERNATIVA


Foi dada a largada para a realização do I Encontro de Música Alternativa em Valença. Após participar da Oficina do Palco do Rock, a banda Dynamus já começa a preparar a bagagem para voltar ao palco do Centro de Cultura de Valença. Como convidado especial da banda o ex vocalista da Banda ET2 (Etevaldo Santos) que promete relembrar volehos sucessos que fizeram a cabeça dos roqueiros valencianos como Ramirolândia.
Da cena local, já estão também confirmadas as bandas No I Feel e Os 4 Elementos.

A No I Feel, que surgiu em 2004 e movimentou a cena rock da cidade ressurgiu no final de 2010 com nova formação. Após apresentar-se na Ocupação Cultural e em outros eventos de rock na cidade, o grupo composto por Raoni Draven ( V ), Mateus Magyver ( G ), Marllon Santos ( G ), Douglas The Rev ( B) e Ales (CB), traz no seu repertório novas canções como Baudelaire And Wine e a "pegajosa" Shadows In The Heart, compostas por Raoni. Da nova fase tem também "Sorrow Man", que esbanja de riffs a la The Cult e Danzig e ao mesmo tempo com a energia explosiva do Papa Roach. Em post no seu blog a banda demonstrou satisfação ao afirmar que "se prepara para esta apresentação que contará com uma velha amiga da cena underground, a banda Dynamus, que foi uma das bandas que influenciou a No I Feel na sua primeira fase".

Já a Banda os 4 Elementos propõe uma fusão de linguagens artísticas - tendo a música como eixo estruturante - para denunciar as mazelas ambientais e sócio-culturais da contemporaneidade. Misturando reggae, dub e rock progressivo, suas composições articulam-se com a poesia e as artes cênicas.Com nova formação, David Willyam (G/V), Fred Gazo (B), Mateus Magyver (G) e Mauricio (CB), os 4 Elementos já são conhecidos na cena cultural do Baixo Sul. para quem não conhece o som da banda pode curtir uma prévia no próximo dia 19/02 em show realizado na Auto Escola Valença.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Por um Irdeb efetivamente público



No atual renascimento do Sistema Público de Comunicação do país as TV's e rádios estaduais cumprem um papel estratégico que pode e deve ser melhor aproveitado pela sociedade civil e agentes estatais. Historicamente essas emissoras têm alto nível de fragilidade e dependência frente ao Executivo, somado por baixo investimento, o que torna a valorização da diversidade cultural o único trunfo, porém de traço elitista. Tal quadro favoreceu que as emissoras comerciais nos estados se tornassem as referências no acompanhamento da vida regional, fincadas sob o "coronelismo midiático" e baixo índice de conteúdo local.

Na Bahia o folclórico ex-senador Antônio Carlos Magalhães (ACM), Ministro das Comunicações do Governo Sarney, era a principal liderança na redemocratização e estimulou o desenvolvimento da filiada da Rede Globo, a Rede Bahia, pertencente a sua família. Os parceiros de ACM também se beneficiaram, políticos do DEM-BA representam hoje 58% das concessões de radiodifusão entregues as políticos no estado segundo o projeto Donos da Mídia. Nos últimos dez anos outra força se consolidou localmente, a TV Itapoan, afiliada da Record e vinculada a Igreja Universal do Reino de Deus.

O Instituto de Radiodifusão Pública da Bahia (Irdeb) é a maior alternativa ao poderio político e religioso das emissoras comerciais no estado, mas ficou de molho por muito tempo, em consonância ao panorama nacional. Nos passos para montagem do segundo governo Jaques Wagner o Irdeb se tornou alvo de divergências sobre seu futuro. Com a criação da Secretaria de Comunicação (Secom) se especula que a Rádio Educadora e TVE Bahia, os dois troncos do Irdeb, sejam incorporados a Secom e deixem a Secretaria de Cultura (Secult).

É salutar que tal infra-estrutura seja mais valorizada pelos atores políticos estatais, mas é preciso que sociedade civil também participe desta discussão afim de fortalecer e consolidar a natureza pública do Irdeb. É o momento do Governo do Estado convocar Seminários, Consultas e principalmente um Conselho Curador com a presença de organizações sociais, artistas, produtores independentes e intelectuais, afim de fortalecer o Irdeb ao torná-lo efetivamente público e não estatal, como ainda é. Tal medida converge a tendência nacional puxada pelo surgimento da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) em 2007 e a formação da Rede Pública Nacional de Televisão em 2010.

No caso da EBC já existe um Conselho Curador em funcionamento com membros da sociedade civil e seus últimos três integrantes foram indicados por uma ampla Consulta Pública antes de serem efetivados pelo presidente da república. Enquanto isso o Conselho Curador do Irdeb é composto por membros do Executivo e um da associação dos funcionários. Já a Rede Nacional se referencia como alternativa para o poderio das redes comerciais e tem como um dos pontos acordado pelos parceiros a formação de Conselhos sob referência da EBC, afim de ampliar os fluxos de financiamento da União para os estados.

Todos esses passos foram e são acompanhados de forma intensa pela atual gestão do Irdeb, capitaneada pelo cineasta Póla Ribeiro. A Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec), hoje presidida por Póla, é uma entidade responsável diretamente pela integração e fortalecimento do Sistema Público.

Nos últimos quatro anos, Póla teve ao seu lado o contexto nacional e posição do Governador de que a rádio e a TV pública da Bahia devem ser geridos com independência. Dessa forma a gestão atual teve a guarita da Secult para dar maior credibilidade as informações veiculadas na grade de programação. Além disso, intensificou o papel de valorização da diversidade e pluralidade, em especial pela adoção da faixa Negra na rádio, a transmissão do carnaval Ouro Negro na TV e recentemente o programa Liberdade Religiosa, referência nacional para substituir o tom proselitista pelo ecumênico nas emissoras públicas.

Já a produção audiovisual se protagonizou pelo fomento e difusão a produção independente e local, cumprindo um papel pouco comum das emissoras comerciais. Atuando em parceria com a Diretoria de Audiovisual (Dimas), o investimento no audiovisual saiu de R$ 256 mil em 2006 para quase R$ 7 milhões em 2009. Porém apenas R$ 250 mil foram destinados para pilotos de programa de TV. Pouco, levando em consideração que a TVE é a emissora que mais valoriza a produção local na Bahia, reservando 14,78% da programação, segundo levantamento do Observatório do Direito à Comunicação.

A contribuição do Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social para o Fórum de TV's Públicas em 2009 cita que: "A política de financiamento deve permitir que as emissoras mantenham uma programação de qualidade e façam frente às emissoras comerciais, a partir da adoção de novos modelos de negócio baseados em redes solidárias de produção e distribuição de conteúdo, com forte participação da produção independente". Ou seja, está em jogo um potencial inestimável da TV pública em dinamizar a economia local, tendo o DOC-TV a grande referência na concatenação da cadeia produtiva do audiovisual, dando a televisão o protagonismo na difusão.

Pois bem, falta muito para o Irdeb se firmar como referência às emissoras comerciais na Bahia. A gestão efetivamente pública também deve ser acompanhada de modelo de financiamento que inclua um fundo com orçamento perene, protegido das mudanças quadrienais do executivo e abastecido por um percentual superior a 15% das receitas publicitárias do governo, ainda balizadas pela audiência. Situação que faz o maior anunciante do mercado publicitário local, o governo do estado, beneficiar as emissoras comerciais tradicionalmente constituídas pelas práticas do "coronelismo midiático", adicionadas pelo poder emergente dos evangélicos e neopentencostais. Diga-se de passagem, muitas dessas emissoras comerciais são viciadas em violar os direitos humanos, em especial nos programas policialescos transmitidos a luz do dia.

O processo de valorização da TV pública também passa pela valorização humana. Por isso, a abertura de concursos e plano de cargos e salários se faz necessária pois os trabalhadores lotados no Irdeb foram historicamente entregues a própria sorte, sem cursos devidos de especialização, tratados como velharias técnicas, como as deixadas pelas gestões anteriores. No levantamento do Sindicado dos Trabalhadores em Rádio, TV e Publicidade (Sinterp) para campanha salarial de 2011, os ordenados dos concursados do Irde chegam a margear a metade do piso das emissoras comerciais.

Enxergar a comunicação e cultura como setores desvencilhados do desenvolvimento socioeconômicos de um estado tradicionalmente paupérrimo como a Bahia é outro estigma que tem sido desconstruído pela emissora pública-estatal. É da atual Secom e da Rádio Educadora a responsabilidade de tocar o programa Ondas Livres voltado para o comunicador comunitário atendendo as resoluções das Conferências de Cultura e Comunicação. O Ondas Livres, se for realizado na sua inteireza, envolve formação e criação de um portal para os comunicadores comunitários do estado realizarem intercâmbios de conteúdos e experiências de sustentabilidade.

A comunicação comunitária ainda é o regime de concessão mais criminalizado no país. O problema ainda é de maior responsabilidade federal, porém nada impede que os governos estaduais assumam políticas que beneficiem esse setor. A Bahia ainda detém a maior população rural nacional, com 4,5 milhões de habitantes conforme aponta o IBGE de 2003. Fora a parabólica e seus conteúdos do eixo Rio-São Paulo, a rádio comunitária (Radcom) é muitas vezes o único meio de comunicação para realizar campanhas educativas e dar informes essenciais para o dia a dia dessas comunidades. Cabe então ao Irdeb ser o gérmen no desenvolvimento de políticas para Radcom, por ser a maior infra-estrutura pública de comunicação da Bahia, também dotada de maiores hábitos que evitam atrelamento político da informação comunitária ao poder estatal.

Ao ser dotado de efetiva participação social e maiores recursos físicos e humanos, o Irdeb tende a se preparar para intensas transformações da TV Digital que podem o credenciar a outro patamar no cenário local e nacional. O decreto do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) de 2006, reservou as emissoras públicas quatro canais: I) Cultura; II) Cidadania; III) Educação; IV) Executivo.

Caso o governo do estado não opte por um Operador de Rede próprio, existe a possibilidade real de ficar subordinado ao Operador nacional e praticamente perder a faixa o espectro que lhe pertence. Caso contrário pode transformar o sinal da TVE em mais três canais locais e desafogar os interesses do Executivo das finalidades educativas e culturais. Sem contar que em muitos países o espectro é utilizado no provimento de internet em alta velocidade, enfim, um bem que não pode ser desperdiçado aleatoriamente, como a faixa de espectro de Ondas Curtas (OC) que pertencia ao Irdeb e foi perdida por desuso dos governos anteriores - as OC têm utilização militares, comerciais e civis, com alcance internacional, são as faixas que permitiam os rádios mais antigos captarem programas em espanhol, inglês e francês.

Assim, antes de se preparar para o futuro tecnológico, o Irdeb continua com problemas sérios do "passado". Correm nos discursos dos atuais gestores que as torres de transmissão do Irdeb eram utilizadas pela Rede Bahia em diversas cidades, quando Jaques Wagner venceu o pleito de 2006. Pra completar, o sinal do Irdeb costumeiramente estava fora do ar, enquanto a filiada da Globo em pleno funcionamento. Além de resolver esse embrulho, Wagner assumiu o compromisso de revitalizar e criar novas torres para o sinal chegar em todas as regiões do estado. O problema é que cabe a Secretaria de Infra-Estrutura (Seinfra) cuidar destas torres e até o fim de 2009 isso era papel de um gestor do PMDB, que pouco mobilizou a empreitada.

Independente pra qual Secretaria o Irdeb fique vinculado é necessário que os gestores assumam o compromisso de potencializar essa estrutura. Torná-lo efetivamente público com a convocação de um novo Conselho Curador é o primeiro passo para dar maior legitimidade ao Irdeb, fazendo com que a sociedade sinta-se integrante dele e não como mais uma ferramenta a serviço daqueles que estão no poder, seja qual for a origem ou prática política.

*Pedro Caribé é jornalista, repórter do Observatório do Direito à Comunicação, associado do Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social e integrante do Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania da Facom/UFBA

Publicado em http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=7513

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

I ENCONTRO DA MÚSICA ALTERNATIVA SERÁ REALIZADO NO CENTRO DE CULTURA DE VALENÇA


Espaço Curto. Curto Circuito. Rock Bis. Pêra Peluda. Besouros que Fedem. UTI. Os Vermes. +morra. Kilombra. Dynamus. Anhangá. Car Kilss Frog. No I Feel. Disteria. Armengados. The Hangers. Hardcross. ET². O Chamado. Dimenor. Status. Garagem 23. Os 4 Elementos... São apenas alguns dos nomes das bandas que compuseram a chamada “Cena Rock Valenciana”. Mas existe mesmo uma cena? Está na hora da galera responder! Se fazer presente! Por isso estamos realizando o I Encontro de Música Alternativa Valenciana.

O I Encontro de Música Alternativa em Valença, acontece no dia 19/03 no Centro de Cultura Olivia Barradas. Será um encontro de diferentes tribos e um dos melhores espaços culturais do interior baiano. O movimento tem como objetivo integrar diferentes segmentos da arte em um só dia apresentando ao público diferenciadas manifestações artísticas. Teatro, Poesia e muita musica irão compor esse primeiro encontro. Dentre as bandas que estarão no evento está:

Dynamus de Salvador, power trio de metal/hardcore que se apresenta em Valença depois de anos sem pisar nos palcos da terra. Composta por Eldo Luiz (G/V), Amarildo Santos (B) e Ticiano Lima (CB), o grupo promete uma de suas melhores apresentações para o festival que marca o reencontro da banda com o público da cidade. www.myspace.com/dynamusxxx

Kodesh de Itabuna, que vem do sul do Estado e com seu poderoso Punk/Crossover para agitar a todos no dia. Banda que acabou de lançar seu primeiro Single na internet (Fronteiras Suicidas), desembarca na cidade destilando todas as novas canções que estarão no seu primeiro cd, que sai ainda no primeiro semestre de 2011.
www.myspace.com/kodesh.ba

De Valença, estão confirmadas as bandas: Os 4 Elementos e No I Feel

domingo, 16 de janeiro de 2011

OPECADO PROMOVE ENSAIO ABERTO DE HÁ VAGAS PARA RAPAZES DE FINO TRATO


Gente, primeiro eu queria contar uma história. Era uma noite de Valença, suja, tenebrosa, mês de dezembro. E a gente vagando, como dois perdidos...
Eduardo, indignado com o marasmo, com a falta do que fazer. Eu, anárquico, querendo subverter, transformar palavras em ações.
Daí, acho que Plínio Marcos baixou qual Exu em encruzilhada e começou a trabalhar.
Na mesma hora resolvemos voltar a fazer teatro.
E a história começou a surgir repleta de coincidências.
Eduardo, agora Cadu, não conhecia a história. Mas numa noite, locamos na Vídeo Split, do Cláudio, o filme e numa outra noite, adaptou a história.
Começamos a ensaiar. E a coisa foi nascendo.
Como parteiro, o mestre Juliano Britto veio ajudar.
Um parto difícil, demorado, apertado. Parecia que ia morrer.
O mestre Jhon desistiu. Saiu antes para não carregar mais um filho morto em suas costas. Daí, quando ninguém acreditava mais, o rebento resolveu nascer.
Veio com toda força. Rasgando tudo, correndo atrás do tempo perdido, se ferindo, se limpando...
Queria sair de qualquer jeito.
Nem que fosse apenas para ver a luz de uma noite. Já tinha passado da hora!
Sabia que era agora ou nunca. Estava com data, local e horário marcado. O burburinho começou a correr. Expectativas. Os que viram qualquer pedaço da criança gostaram do que viram. Incentivaram, mas no fundo não chegavam a acreditar que ela vingasse. Houve até quem, com muito tato, propusesse um aborto.
Às pressas, poucos amigos e curiosos foram chamados para presenciar o nascimento. Alguns, nem deu tempo. Outros foram pegos de surpresa. Enfim, com alguns minutos de atraso, no dia 29 de dezembro, no Cine Vitória, HÁ VAGAS PARA RAPAZES DE FINO TRATO, a mais nova montagem d’OPECADO, estreou.
Como em todo nascimento, a esperança se renova. Se os deuses do teatro forem generosos em 2011, logo ela estará mais uma vez em cartaz não só em Valença, mas circulando em outros espaços. Se não, valeu ter vindo ao mundo, mesmo que por uma noite.
E para fechar com mais uma coincidência, neste fim/início de ano, relembramos as palavras do mestre João Cabral de Melo Neto em “Morte e Vida Severina”, quando na última cena em que é o carpinteiro é interpelado pelo retirante se não é melhor saltar da ponte, a viver essa vida Severina:

—— Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.

E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida
como a de há pouco, franzina
mesmo quando é a explosão
de uma vida Severina!